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O tempo dos governantes incidentais

28/09/2022
O tempo dos governantes incidentais | Jornal da Orla

O déficit democrático no Brasil e no mundo

O mundo inteiro, ao menos de uma década para cá, passa por uma recessão democrática. Em parte porque a democracia não entregou tudo que prometia, em parte porque o ressentimento do cidadão foi capitalizado por maus políticos, fato é que surgiram líderes eleitos dentro das regras democráticas mas que se empenham, diariamente, a enfraquecê-las.

O tempo dos governantes incidentais surgiu da preocupação de seu autor sobre a qualidade da democracia moderna. Em linguagem clara e acessível, Sérgio Abranches elabora um contundente panorama sobre governos de diversos países para estabelecer suas conclusões sobre a ascensão da extrema direita populista pelo mundo. A experiência trumpista na dita maior democracia do mundo deflagrou uma derrocada democrática generalizada e chegou às nossas portas por meio do seu maior homólogo, cópia mal-ajambrada do estadunidense: Jair Bolsonaro.

Nada é por acaso. Tudo pode ser explicado por pesquisa séria e bem trabalhada. Se a democracia moderna sofre ataques severos dos que a odeiam, só o esclarecimento poderá dissipar as nuvens negras do autoritarismo. Leiamos, portanto. A sociedade é melhor que seus políticos.

Motivos para ler:
1- Sérgio Abranches é sociólogo e cientista político. Notabilizou-se pelo seu já clássico Presidencialismo de coalizão. A onda reacionária política contemporânea provocou literatos de vários países a escreverem sobre democracia, e faltava uma produção brasileira. Com este O tempo dos governantes incidentais, não mais;

2- Uma boa conclusão do livro é a percepção de que o que a democracia tem de melhor é também sua fragilidade: dar voz a todos, inclusive àqueles que investem contra ela. O autoritário só usa a democracia para chegar ao poder, mas não a aceita quando oferece meios legítimos para limitar suas decisões ou para retirá-lo do poder. O verdadeiro democrata respeita todas as regras do jogo, desde as eleições, passando pelos atos governamentais até o momento de aceitar deixar o cargo;

3- Abranches cita o consagrado jurista Posner (EUA) ao desenhar o clássico antidemocrata. Para reflexão: “Para gerar um governo autoritário, o presidente precisaria atacar a imprensa, o Congresso, o Judiciário, a burocracia, subjugar os governos estaduais, desacreditar a sociedade civil organizada e agitar as massas”.

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