Fronteiras da Ciência

O orgulho

01/03/2024
O orgulho | Jornal da Orla

Uma vida tão cheia de bênçãos jogada fora pelo orgulho extremo.

Raul era oftalmologista. Seus anos de clínica e cirurgia lhe haviam granjeado fama e dinheiro. Embora os aplausos do mundo, os trabalhos premiados, era um coração bondoso.

Jamais perguntava ao paciente se dispunha ou não de recursos amoedados para pagá-lo. Simplesmente o atendia.

Estudioso e pesquisador, os anos lhe permitiram aprimorar a técnica cirúrgica e, com alegria, via-se a devolver a vista a cegos.

Seu mundo era a ciência, a família, e seus inumeráveis enfermos.

Uma de suas filhas se casou e se tornou mãe de uma linda menina. Os seus olhos eram formosíssimos e Raul se apaixonou pela neta. Sempre que possível, a tomava nos braços, saíam a passeio.

A menina, por sua vez, adorava o avô.

Certo dia, a garota adoeceu gravemente. A enfermidade lhe afetou os olhos. Raul não comia, nem dormia. Ficava ao lado da doentinha, enquanto devorava os livros, buscando uma forma de devolver a luz para os olhos que eram sua própria vida.

Sua habilidade conseguiu fazer com que ela voltasse a enxergar com um dos olhos. Mas o outro deslocou-se de sua órbita e ficou irremediavelmente perdido.

Raul pareceu enlouquecer.

Logo ele, que devolvera a vista a tantos, se via impotente ante a tragédia da neta.

-Para que lhe servia a ciência? – Perguntava-se. -Para nada.

Acabrunhado, principiou por negar a se alimentar. Alguns dias ainda se serviu de água. Depois, passou a recusá-la também.

Murmurava entre dentes: –Já não sirvo para nada. E quando não se serve para nada, é melhor deixar o lugar para outro.

Uma vida tão cheia de bênçãos jogada fora pelo orgulho extremo.

O orgulho o cegou. Ao se ver impotente para resolver o problema da neta, seu desespero chegou a um grau superlativo.

Impossibilitado de servir a quem tanto amava, preferia morrer. Não pôde suportar a ideia de sua pequenez, de seu poder limitado.

[com base em texto de Amália D. Soler, em psicografia de Divaldo P. Franco

 e na Red. do Momento Espírita] 

O fato bem pode nos servir de alerta. Quantos nos cremos o suprassumo da sabedoria e não nos damos conta que, mesmo que abracemos a ciência toda da Terra, muito limitado ainda será nosso saber.

O verdadeiro sábio é o que reconhece as suas conquistas, mas aquilata, igualmente, o quanto ainda lhe é desconhecido. Por isso se empenha a cada dia a galgar mais um degrau no conhecimento.

Quantas mentes avantajadas, personalidades ilustres têm se perdido pelo orgulho.

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