Uma vida tão cheia de bênçãos jogada fora pelo orgulho extremo.
Raul era oftalmologista. Seus anos de clínica e cirurgia lhe haviam granjeado fama e dinheiro. Embora os aplausos do mundo, os trabalhos premiados, era um coração bondoso.
Jamais perguntava ao paciente se dispunha ou não de recursos amoedados para pagá-lo. Simplesmente o atendia.
Estudioso e pesquisador, os anos lhe permitiram aprimorar a técnica cirúrgica e, com alegria, via-se a devolver a vista a cegos.
Seu mundo era a ciência, a família, e seus inumeráveis enfermos.
Uma de suas filhas se casou e se tornou mãe de uma linda menina. Os seus olhos eram formosíssimos e Raul se apaixonou pela neta. Sempre que possível, a tomava nos braços, saíam a passeio.
A menina, por sua vez, adorava o avô.
Certo dia, a garota adoeceu gravemente. A enfermidade lhe afetou os olhos. Raul não comia, nem dormia. Ficava ao lado da doentinha, enquanto devorava os livros, buscando uma forma de devolver a luz para os olhos que eram sua própria vida.
Sua habilidade conseguiu fazer com que ela voltasse a enxergar com um dos olhos. Mas o outro deslocou-se de sua órbita e ficou irremediavelmente perdido.
Raul pareceu enlouquecer.
Logo ele, que devolvera a vista a tantos, se via impotente ante a tragédia da neta.
-Para que lhe servia a ciência? – Perguntava-se. -Para nada.
Acabrunhado, principiou por negar a se alimentar. Alguns dias ainda se serviu de água. Depois, passou a recusá-la também.
Murmurava entre dentes: –Já não sirvo para nada. E quando não se serve para nada, é melhor deixar o lugar para outro.
Uma vida tão cheia de bênçãos jogada fora pelo orgulho extremo.
O orgulho o cegou. Ao se ver impotente para resolver o problema da neta, seu desespero chegou a um grau superlativo.
Impossibilitado de servir a quem tanto amava, preferia morrer. Não pôde suportar a ideia de sua pequenez, de seu poder limitado.
[com base em texto de Amália D. Soler, em psicografia de Divaldo P. Franco
e na Red. do Momento Espírita]
O fato bem pode nos servir de alerta. Quantos nos cremos o suprassumo da sabedoria e não nos damos conta que, mesmo que abracemos a ciência toda da Terra, muito limitado ainda será nosso saber.
O verdadeiro sábio é o que reconhece as suas conquistas, mas aquilata, igualmente, o quanto ainda lhe é desconhecido. Por isso se empenha a cada dia a galgar mais um degrau no conhecimento.
Quantas mentes avantajadas, personalidades ilustres têm se perdido pelo orgulho.
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