Vão chegando as Grandes Festas. Vamos preparando mentalmente como elas serão.
Mas a sabedoria judaica nos encoraja a fazer algo muito mais pessoal e profundo durante o mês que anuncia este Ano Novo, durante o mês de Elul: o judaísmo nos pede uma prestação de contas da nossa alma, cheshbon hanefesh.
Nossa introspecção pode ter um valor imenso nesta época de transformação, mas para isto acontecer, temos que voltar o olho, de um modo intenso e honesto, para nosso interior. Devemos examinar esse mundo interno da personalidade, pensamento, sabedoria e emoções, junto com nossa essência eternal, que é o que conhecemos com “alma”, e fazermos um rigoroso processo de contabilidade para conseguirmos insights que nos levem às mudanças necessárias às quais nos proporemos nos Dias Intensos, ou Iamim HaNoraim.
Podemos simplesmente fazer uma lista mental das coisas que sabemos estar erradas em nossas vidas. Fomos talvez arrogantes demais, gananciosos demais, esquecemos que ganhar dinheiro é um meio e não o objetivo final de nossas vidas; tratamos o outro como se fossem objetos sem perceber que cada ser humano pode nos trazer algo de bom na relação; acostumamo-nos às pequenas mentiras e transgressões, acalmando nossa mente ao comparar com os grandes pecados, sem perceber que, mesmo assim, nos tornamos transgressores.
Devemos também pensar sobre nossas forças e nossas fraquezas, de modo consciente, para perceber o que nos move ou o que nos domina. O que nos faz estourar numa situação, ou o que nos faz apreciar um belo dia… Não devemos ruminar sobre eventos que não são importantes.
Isto é uma contabilidade da alma; trata-se de uma leitura honesta e sem culpa de nós mesmos.
Toda vez que nos dispomos a fazer um trabalho destes, é uma oportunidade de mudarmos e de nos tornarmos seres humanos melhores. É a possibilidade de aproximar a pessoa que somos da pessoa que gostaríamos de ser. O incrível é que a tradição judaica oferece esta ferramenta em seu calendário, no mês de Elul
As letras hebraicas que formam Elul são descritas no Talmud como um acrônimo para a frase do Cântico dos Cânticos: ‘Ani L’dodi V’dodi Li‘ – Eu sou do meu amado e meu amado é meu. A fim de nos engajarmos neste processo de reflexão e discernimento do mês de Elul, nos é oferecida esta dica, uma zechira, um lembrete, para nos apoiarmos na presença do Divino Amado, cultivando e nos comprometendo novamente com o relacionamento Sagrado.
Um componente essencial para iniciar qualquer jornada espiritual é ser lembrado de que somos amados, não porque fizemos as coisas certas ou nos comportamos da maneira certa, mas apenas porque somos.
O pensamento místico judaico encoraja a ideia de que a reflexão sobre as motivações internas e pensamentos é capaz de envolver o “poder” da alma dentro do corpo, remodelando a maneira pela qual vivemos e reagimos – reorientando nossa “vontade” para Deus e para o Bem.
Vários costumes surgiram em algum momento durante o primeiro milênio que designa, até hoje, Elul como o tempo para se preparar para os Grandes Dias Santos. Como esses dias estão cheios de tanto significado e potência, eles exigem uma medida especial de prontidão. Somos chamados a analisá-los cuidadosamente e a considerar o que eles significam.
Tradicionalmente, o shofar é tocado todas as manhãs (exceto no Shabat) desde o primeiro dia de Elul até o dia anterior a Rosh HaShaná. Seu som tem como objetivo despertar a alma e dar início ao balanço espiritual que acontece ao longo do mês. Em algumas congregações, o shofar é tocado na abertura de cada serviço de Cabalat Shabat durante Elul.
Orações penitenciais especiais – Selichot – são recitadas durante o mês (algumas comunidades o fazem apenas após o primeiro Shabat anterior à Rosh HaShaná). Um serviço especial de Selichot é realizado no final da noite – muitas vezes à luz de velas – na noite de sábado, uma semana antes de Rosh HaShaná.
Elul também é uma época do ano durante a qual os judeus tradicionalmente visitam os túmulos de seus entes queridos. Esse costume não apenas nos lembra das pessoas em cujos ombros agora estamos e nos ajuda a honrar suas memórias, mas também nos leva a pensar em nossas próprias vidas e nos legados que deixaremos para nossas futuras gerações – palavras gentis ditas, conforto oferecido, amor dado e recebidos – que adquirem um significado adicional à medida que entramos na alta temporada das Festas.
É costume ler o Salmo 27 todos os dias desde o início de Elul até Hoshana Rabá, que é o último dia de Sucot.
Na tradição chassídica, diz-se que, durante este mês, “o Rei (Deus) está em campo”, sorrindo e acessível a todos e agora é o momento em que podemos estar com Deus e seremos ouvidos com mais rapidez e atenção.
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