Significados do Judaísmo

O Kotel – Sua História e Sua Sacralidade

22/06/2023
O Kotel – Sua História e Sua Sacralidade | Jornal da Orla

O Kotel Ha’Maariv (Muro Ocidental) é um local de oração e peregrinação sagrado para o povo judeu. Todos os anos, os visitantes do Muro deixam milhões de notas manuscritas entre as rachaduras destas pedras antigas. Estas são notas para Deus, orações e desejos pessoais.

O Muro é um remanescente das paredes de contenção do Monte do Templo, onde ficava o Templo, trazendo a presença de Deus ao mundo.

O Kotel, na Cidade Velha de Jerusalém, tem figurado com destaque na consciência judaica por séculos. Gerações sonharam em aparecer diante do velho muro de pedra, mesmo que apenas por uma vez. Atualmente, o Muro está aberto 24 horas por dia, 365 dias por ano, e as rachaduras entre as pedras retangulares ficam forradas de bilhetes de louvação, de pedidos de cura e de outras preces.

O Kotel data do século II AEC. A construção começou por volta de 19 AEC. Mede cerca de 488 metros de comprimento e cerca de 40 metros de altura, embora já tenha subido para 60 metros de altura. A parte acima do solo do Muro tem 19 metros de altura.

Conhecido como o segundo local mais sagrado da fé judaica (o primeiro local mais sagrado é O Morro do Tempo, onde o Primeiro e Segundo Templos foram construídos) Sua importância reside no fato de ser o último remanescente do muro de contenção original que cercava o Segundo Templo, construído há mais de 2.000 anos. Depois que os Templos acabaram destruídos, em 70 EC, os judeus foram exilados da cidade, que se tornaria local de peregrinação, para onde eles voltavam para lamentar sua perda (ficou conhecido como o Muro das Lamentações por esse motivo).

Quando o rei Salomão construiu o primeiro Templo Sagrado em 826 AEC, ele queria que fosse o coração da nação judaica – um lugar onde as pessoas se sentissem inspiradas a falar com Deus, um lugar onde ninguém se sentisse sozinho. “Por favor, Deus”, disse ele durante a inauguração do Templo, “Ouça as orações que são ditas neste lugar”.

As preces de Salomão foram atendidas e a presença de Deus inundou o Templo. O Segundo Templo, construído 480 anos depois, também abrigava a presença de Deus.

O midrash (uma compilação dos comentários dos rabinos sobre cada um dos cinco volumes da Torá) diz que “a Shechiná (“aspecto feminino” do Divino) nunca deixou o Kotel”. Especificamente, porque o Santo dos Santos ficava no lado oeste do Templo. “Este é o Muro Ocidental do Templo, que nunca é destruído porque a Shechiná está no Oeste.”

A santidade do Muro se deve à sua proximidade com a área do Templo.

Após a destruição do Primeiro Templo, a área em que foi construído, o Monte do Templo, passou a ser conhecido como Har Habayit ( Colina de Nossa Casa).

Quando os romanos arrasaram o Segundo Templo, eles deixaram uma parede externa de pé. O Muro não tinha nenhum significado especial, de acordo com o professor e escritor F.M. Loewenberg, até o século 16, quando o sultão Suleyman I (o Magnífico) encerrou quase 300 anos de governo mameluco e estabeleceu o Império Otomano. Suleyman restaurou as muralhas da cidade de Jerusalém em 1536 e incentivou os judeus que haviam sido expulsos da Espanha e de Portugal a se estabelecerem em Jerusalém.

Em 1546, um terremoto devastou a região e danificou o Monte do Templo e arredores. Suleyman ordenou que os escombros das casas adjacentes ao muro ocidental fossem removidos para criar um local de oração para os judeus. Suleyman emitiu um firman (decreto) que os judeus tinham o direito de orar ali o tempo todo. Este decreto permaneceu em vigor e foi honrado por seus sucessores por mais de 400 anos. A área tornou-se o segundo lugar mais sagrado para os judeus e um local de peregrinação.

Ao longo dos séculos, judeus de todo o mundo fizeram a difícil peregrinação à Jerusalém, e imediatamente dirigiram-se ao Kotel Há’ Maariv (Muro Ocidental) para agradecer a Deus. As intensas orações oferecidas no Kotel eram tão sinceras que os não-judeus começaram a chamar o local de “Muro das Lamentações”. Este nome nunca conquistou muitos seguidores entre os judeus tradicionais; o termo “Muro das Lamentações” não é usado em hebraico.

O Kotel foi submetido a indignidades muito piores do que semânticas. Durante os mais de mil anos em que Jerusalém esteve sob o domínio muçulmano, os árabes costumavam usar o Muro como depósito de lixo, para humilhar os judeus que o visitavam.

Durante a maior parte do período após a destruição do Templo, a área em frente ao Muro das Lamentações era estreita. Após o estabelecimento de Israel em 1948 e a Guerra da Independência, a parte oriental de Jerusalém, incluindo o Muro Ocidental, ficou sob o domínio jordaniano e os judeus não podiam orar ali.

De acordo com Loewenberg, os judeus não visitavam regularmente o Muro. Eles vinham em ocasiões especiais, como Tisha B’Av, ou para orar pedindo ajuda para problemas pessoais. Só mais tarde, é que o beco começou a ficar lotado durante os festivais e o Shabat.

O afluxo regular ao Muro não começou até o final do século 19 ou início do século 20. Em 1941, a popularidade de visitar e rezar no Muro levou os rabinos-chefes nomeados pelos britânicos a emitir regulamentos para o comportamento adequado diante do Muro, que incluía a controversa separação de homens e mulheres

Por dezenove anos, de 1948 a 1967, o Kotel esteve sob domínio jordaniano. Embora os jordanianos tivessem assinado um acordo de armistício em 1949, garantindo aos judeus o direito de visitar o Muro, nenhum judeu israelense jamais teve permissão para fazê-lo.

Entretanto, durante a Guerra dos Seis Dias de 1967, Israel reunificou a cidade e recapturou o muro. O comandante israelense da Brigada de paraquedistas, Mordechai Gur, anunciou sua recaptura em seu rádio, declarando entusiasmado que “o Kotel está em nossas mãos”. O rabino Shlomo Goren, então rabino-chefe do exército israelense, tocou o shofar por toda a cidade velha para marcar a importância da ocasião.

As qualidades místicas associadas ao Kotel são enfatizadas em uma canção popular israelense, cujo refrão é: “Existem pessoas com corações de pedra e pedras com corações de pessoas”. Um rabino em Jerusalém uma vez disse que a expressão hebraica “As paredes tem ouvidos” foi originalmente dita sobre o Kotel.

Além das grandes multidões que vêm rezar no Kotel nas noites de Cabalat Shabat, o local também é um ponto de encontro comum em todos os feriados judaicos, particularmente no jejum de Tisha B’Av, que comemora a destruição dos dois Templos.

Hoje, o Muro é um símbolo nacional, e ali são realizadas as cerimônias de abertura ou encerramento de muitos eventos judaicos, inclusive seculares.

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