King foi considerado o rei dos talk shows
A placa pendurada na parede de uma estação de rádio era uma diretriz sinistra tanto para os repórteres veteranos que queriam manter suas carreiras quanto para os jovens aspirantes. Larry King estava apenas começando sua carreira quando leu essas palavras de orientação: “Na dúvida, deixe para lá”, advertia a placa.
Mas King, insaciavelmente curioso e corajoso, a ignorou e conta com orgulho como ao longo de sua carreira ele sempre quebrou essa regra.
Assim, aos 22 anos, Larry King fez uma pergunta que nunca vai esquecer. Enquanto entrevistava um padre católico, King, o inocente boychik (moleque) judeu do Brooklyn, perguntou ao padre celibatário quantos filhos ele tinha. “A expressão em seu rosto é algo que ainda vejo em meus pesadelos”, disse King, brincando.
King foi considerado o rei dos talk shows de entrevistas, tendo conduzido por sua conta mais de 50.000 entrevistas em seus 63 anos no ramo. Ele teve seu auge durante o show “Larry King Live” na CNN, que começou em 1985 e durou 25 anos. Foi o programa mais bem avaliado da rede ao longo de sua gestão.
King nasceu no Brooklyn, em 19 de novembro de 1933. Ele era um dos dois filhos de Jennie (Gitlitz), de Minsk e Aaron Zeiger, que nasceu em Pinsk, Império Russo.
Seus pais eram judeus ortodoxos que imigraram da Bielo-Rússia para os Estados Unidos na década de 1930.
O pai de King morreu de ataque cardíaco quando King tinha nove anos.
Isso resultou em que King, sua mãe e irmão tiveram que viver de auxílio do governo. Larry foi muito afetado pela morte de seu pai.
Ele também deixou de lado muitas das práticas judaicas ortodoxas com as quais foi criado. Furioso porque seu pai havia sido tirado dele, King também enterrou sua fé em Deus.
Ele foi um agnóstico desde então. “Embora eu seja uma pessoa que perdoa muito, se Deus existe, eu teria dificuldade em perdoá-lo”, afirma King.
Depois de se formar no colégio, Larry trabalhou para ajudar no sustento de sua mãe. Desde muito jovem, ele desejava trabalhar na radiodifusão.
King foi para Miami e, após contratempos iniciais, conseguiu seu primeiro emprego no rádio.
Sua primeira transmissão foi em 1º de maio de 1957, trabalhando como disc jockey das 9h ao meio-dia.
Ele adquiriu o nome Larry King quando o gerente geral da estação afirmou que Zeiger era muito étnico (muito judeu). Em dois anos, ele mudou legalmente seu nome para Larry King.
King creditou seu sucesso na televisão local à assistência do comediante Jackie Gleason, cujo programa de variedades da televisão nacional estava sendo gravado em Miami Beach no início de 1964.
Larry era conhecido por sua chutzpá, ousadia e questionamento direto. Ele nunca teve vergonha de deixar as pessoas saberem que ele era judeu, apesar de ter mudado seu nome no início de sua carreira.
O entrevistador sempre afirmou que não era religioso e dizia realmente que era agnóstico. Ou seja, não sabia se existe um Deus ou não.
Mas, certamente se considerava culturalmente judeu. Amava o senso de humor judeu. O shtick (esquete) do comediante judeu ardia em sua alma. Não se importava com piadas sobre judeus contadas por judeus porque, para ele, o humor judaico se tornou universal.
Surpreendentemente, embora não observasse todas as leis dietéticas, certas coisas permaneceram com ele desde a infância. Por exemplo, não comia carne com um copo de leite. As leis dietéticas judaicas prescrevem que você não deve misturar os dois. Isso era quase inato nele. Não observava os feriados judaicos, mas admitia uma certa reverência no Yom Kippur e no Rosh Hashaná porque lhe dava a chance de refletir sobre seus falecidos pais.
Por 63 anos, e em todas as plataformas de rádio, televisão e mídia digital, as muitas milhares de entrevistas, os prêmios e aclamação global de Larry são um testemunho de seu talento único e duradouro como locutor”, disse Ora Media em um comunicado publicado. “Além disso, embora seu nome aparecesse nos títulos dos programas, Larry sempre viu seus entrevistados como as verdadeiras estrelas de seus programas, e a si mesmo apenas como um canal imparcial entre o convidado e o público.
Quer estivesse entrevistando um presidente, um líder estrangeiro, uma celebridade, um personagem cheio de escândalos ou um homem comum, Larry gostava de fazer perguntas curtas, diretas e descomplicadas.
Ele recebia bem todos, do Dalai Lama a Elizabeth Taylor, de Mikhail Gorbachev a Barack Obama, de Bill Gates a Lady Gaga.
Noite após noite, King entrevistava qualquer pessoa interessante para o mundo. Afirmava que Frank Sinatra foi seu melhor convidado e Robert Mitchum, que passou a entrevista inteira dando respostas de uma palavra, foi o seu pior. King estava tão desesperado que começou a perguntar a Mitchum o que ele havia comido no jantar.
O hábito de três maços de cigarro por dia o levou a um ataque cardíaco em 1987 mas, a cirurgia quíntupla de ponte de safena nada interferiu em seu ritmo.
King foi casado oito vezes com sete mulheres. Seu casamento mais longo foi com Shawn Southwick, com quem ele se casou em 1997 e era 26 anos mais nova. No momento de sua morte, o casal estava em processo de divórcio, supostamente porque King disse que eles não podiam superar a diferença de idade e religião. Southwick é uma mórmon.
Embora ele simplesmente não conseguisse encontrar a fé, King admitiu que os muitos rabinos que conheceu em sua vida o afetaram profundamente. O que King gostava especialmente no judaísmo, que ele não encontrou em outras religiões, é que ela força as pessoas a questionar continuamente as coisas – uma tradição adequada para a curiosidade de King.
Sua cidade preferida no mundo era Jerusalém e sua visita a Israel o marcou tremendamente. O próprio sabor de Jerusalém permaneceu com ele muito depois de sua volta. Gostou de todas as pessoas da região, incluindo os muitos palestinos que conheceu. No Kotel, Larry teve um sentimento de pertencimento e pensou muito em seus falecidos pais, que teriam adorado pisar naquele solo.
Larry King, o homem com seus suspensórios e cujas entrevistas transmitidas com líderes mundiais, estrelas de cinema e pessoas comuns ajudaram a definir a forma das entrevistas americanas por meio século.
Em 23 de janeiro de 2021, aos 87 anos, Larry King morreu em consequência de Covid-19.
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