Governador busca demonstrar gratidão a Bolsonaro sem ser radical de extrema-direita
Em sua fala na reunião convocada pelo presidente Lula na segunda-feira (9), o governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, deu um sinal claro de qual linha política deve seguir. Fez questão de cumprimentar o vice-presidente, Geraldo Alckimin, e salientou: “com quem eu tenho que aprender sobre São Paulo”.
Desde a confirmação de sua vitória, Tarcísio vem andando no fio na navalha, para ao mesmo tempo demonstrar gratidão a Jair Bolsonaro pela sua eleição e indicar que não será um radical de extrema-direita.
A própria escolha de sua equipe de governo foi um passeio sobre ovos. Tarcísio conseguiu compô-la sem grandes problemas, conciliando alguns bolsonaristas (poucos, menos do que os radicais de extrema-direita desejavam) com pessoas de perfil técnico de sua confiança com lideranças políticas capazes de garantir apoio na Assembleia Legislativa.
Os ataques terroristas ao Palácio do Planalto, Congresso e Supremo Tribunal Federal acabaram sendo a oportunidade ideal para Tarcísio de descolar de vez do bolsonarismo. Inicialmente, o governador de São Paulo havia anunciado que não participaria da reunião convocada por Lula —temia que sua presença fosse interpretada como um endosso à responsabilização de Jair Bolsonaro pelo vandalismo.
Com o transcorrer do dia, após conversas com conselheiros políticos e uma ligação da presidente do STF, Rosa Weber, Tarcísio se convenceu de que sua presença em Brasília era imprescindível.
Na reunião em Brasília, Tarcísio frisou “a democracia vai continuar sendo realidade em nosso país” —era uma citação de frase de discurso de Rosa Weber, que acabou deixando escapar algumas lágrimas.
Dentro do Governo do Estado, “enquadrou” com categoria o seu secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, um bolsonarista de carteirinha que disse que iria “dialogar” as pessoas acampadas na porta de quartéis que defendem o golpismo.
Determinou que seu secretário cumprisse a decisão do ministro do STF Alexandre de Morais para por fim aos acampamentos.
Ao destacar Alckmin, um moderado por natureza, Tarcísio deixa claro para todos, inclusive os bolsonaristas. Era como se falasse, naquele estilo de Alckmin em que parece soletrar as letras de uma palavra: “P-R-E-V-I-S-I-B-I-L-I-D-A-D-E”.
Assim, comandando sem solavancos o estado mais importante do país, Tarcísio vai se credenciando como o grande líder do espectro mais conversador do cenário político nacional. E, consequentemente, um forte candidato a presidente em 2026.
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