Preso em Santos, quinta-feira à noite, por um estupro coletivo contra uma jovem albanesa na Itália dez anos atrás, o ex-jogador Robinho viverá dias difíceis no presídio do Tremembé, onde vai cumprir parte da pena de nove anos determinada pela Justiça italiana.
A prisão de Robinho era algo considerado inimaginável até pouco tempo atrás. Afinal, o estrupo havia sido praticado em Milão e o país não extradita, por lei, brasileiros natos que cometam crimes no exterior.
Robinho fugiu da Itália e vivia desfrutando em Santos de todos os prazeres que o dinheiro pode oferecer.
Com amigos, debochava da situação, certamente apostando na certeza da impunidade, uma tradição nacional que costuma beneficiar famosos e endinheirados.
Mas, por que, afinal, deu ruim para Robinho?
É provável que não tenha apenas um motivo, mas, a exemplo de uma queda de avião, que é consequência de vários fatores, casos que chocaram a opinião pública certamente levaram o Congresso e o Judiciário a buscar respostas para a sociedade.
Insatisfação com insegurança
Uma pesquisa em 30 países realizada pelo Instituto Ipsos, uma empresa de consultoria com sede em Paris, mostrou que o Brasil é o país menos satisfeito com segurança pessoal. Estamos atrás até de México, Colômbia, Argentina, Chile e Peru, entre outros.
Entre os mais satisfeitos estão, pela ordem, Indonésia, Singapura e Holanda, conforme pesquisa divulgada no início deste mês.
E, é claro, a relação de insegurança tem muito a ver com o sentimento de impunidade que é crescente na população brasileira.
O efeito Daniel Alves
Robinho também pagou parte da conta pelo crime cometido pelo também ex-jogador e amigo Daniel Alves, que estuprou uma jovem na Espanha e foi condenado pela Justiça daquele país.
Dois ex-jogadores brasileiros igualmente condenados por estupro, um deles condenado e preso, e outro condenado, mas livre e desfrutando os prazeres da vida, pegaria muito mal para a imagem do Brasil, no país e no exterior.
Neymar pai, por exemplo, percebeu os ventos da mudança: ele se recusou a emprestar para Daniel Alves um milhão de euros para que ele pudesse pagar a fiança e deixar a prisão.
A voz de Dinei
Dinei, ex-jogador do Corinthians, publicou no Instagram um comentário sobre os casos envolvendo Robinho e Daniel Alves, que possivelmente retrata o que pensam muitos brasileiros:
“Vou falar sobre o caso desses estupradores, tanto Robinho como Daniel Alves. Não tem que chamar eles de ex-jogador, não. Tem que pagar a pena, sim. Eu tive isso com minha filha em 2010, tentativa de estupro. E vocês não sabem o que minha filha passou, o que essas meninas estão passando, a dor que essas famílias estão passando”.
E conclui: “
Eles têm que pagar. São estupradores, não ex-jogadores. Estupradores!”
Outro ricaço que se deu mal
Outro famoso que se deu mal foi o empresário Thiago Brennand, condenado por estupro e agressão. Ele apostou na impunidade e fugiu para Abu Dhabi, no Emirados Árabes. Achou que não seria extraditado para o Brasil.
Como Robinho, se deu mal.
Como Robinho, vive e viverá dias difíceis no cárcere.
O Brasil está mudando?
O tempo dirá.
Fim das saidinhas é outro exemplo
Projeto que acaba com as saidinhas para autores de crimes violentos, recentemente aprovado pelo Congresso, é outro sinal de que a impunidade pode deixar de ser uma marca registrada do Brasil.
A iniciativa, que depende apenas da sanção do presidente Lula, vai ao encontro do que pensa a grande maioria da população brasileira. Mesmo entre aqueles eleitores que se declaram de esquerda, mas de 60% aprovam o fim das saidinhas, segundo recentes pesquisas de opinião.
Definitivamente, um recado de que a sociedade cansou.