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Mestres antigos

17/08/2022
Mestres antigos | Jornal da Orla

O livro de um único parágrafo que nunca perde o fôlego

Seguimos pela vida buscando sensações que desencadeiem deslumbramento, prazer, surpresa, originalidade, o vislumbre de algo especial. É como se todos nós carregássemos uma angústia por experimentar novas e espetaculares emoções, o que se projeta na vida amorosa, no trabalho, na compulsão por acumular patrimônio. Este sentimento também acompanha os leitores: estamos sempre em busca de livros que nos arrebatem. Mestres Antigos, de Bernhard, tem credenciais para isso.

A estilística impressiona de cara: trata-se de um livro de único parágrafo, mas que nunca perde o fôlego. Reger, um crítico musical octogenário muito rabugento, senta-se em dias alternados no mesmo banco do mesmo museu para contemplar o mesmo quadro há mais de 30 anos. Num destes dias, Reger encontra um amigo filósofo e põe-se a falar sobre tudo: a morte nunca superada da esposa, arte, música, livros, o papel do Estado, a solidão, a infância e até sobre banheiros públicos.

Num fluxo de pensamento impressionante, Reger discorre sobre tudo com uma exuberante inteligência carregada de rancor, pessimismo e comédia. É um idoso rabugento, mas é um rabugento simpático e muito encantador.

Motivos para ler:
1- Thomas Bernhard (1931-1989) é um craque absoluto do ofício da escrita. Considerado como um dos maiores nome da literatura de língua alemã, tem como maiores destaques em seu catálogo este Mestres antigos e O náufrago;

2- A narrativa deste livro é original não só pela formatação (um único parágrafo atravessando todo o livro) mas também pelo enredo caótico desenvolvido pela voz impiedosa e hilária de um amargo personagem. Imperdível;

3- O livro remete constantemente para a pintura Homem de barba branca de Tintoretto. É em torno desse quadro – quase um personagem – que tudo se passa. A imagem que ilustra esta coluna traz, portanto, a obra. Aprecie.

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