Saúde

Medicamento para crianças

20/03/2014
Medicamento para crianças | Jornal da Orla
Em Portugal, um novo conceito de loja vende doces em embalagens com aspecto de medicamento. Sua campanha publicitária promove as guloseimas como indicação contra alguns males como mau humor, por exemplo. Os textos têm estrutura muito semelhante aos encontrados na divulgação de medicamentos. Ainda que possa parecer interessante, do ponto de vista comercial, não é uma boa prática associar os medicamentos aos doces, pois criam, na criança, duas representações inadequadas.
A primeira delas pode passar à criança a imagem de que o uso de medicamentos é tão inofensivo quanto consumir uma guloseima. Há inúmeros casos de intoxicação por medicamentos em crianças, mais de 33% deles acontece com os menores de cinco anos. As crianças são estimuladas ao consumo incorreto dos medicamentos devido ao atrativo da cor, do sabor ou da embalagem instigante. Esse último fator é regulado por resolução da Anvisa e pelo o Estatuto da Criança que proíbem a inclusão de mensagens, símbolos e imagens de qualquer natureza dirigidas a crianças ou adolescentes.
Outro aspecto problemático na apresentação da loja em questão está ligado à mensagem na qual o doce, travestido de medicamento, é indicado a resolver certas condições do cotidiano como mau humor, sensação de perda, problemas de relacionamento, etc. Nos dias de hoje, há grande crítica em relação à medicalização da sociedade, que pretende resolver problemas emocionais com medicamento, deixando de vê-los como processo natural da vida. Apresentando-se como resposta pretensamente fácil em detrimento do fortalecimento do ser humano, desde a infância, poderá tornar o adulto muito mais dependente de medicamentos, pois, atualmente, vivemos sob a ideologia do consumo, incluindo-se como produto o bem-estar, a saúde e a felicidade.
Por outro lado, alguns medicamentos estão sendo produzidos na forma de pirulitos, gomas e até sorvetes. Essa prática, aparentemente facilitará a tomada do medicamento por parte da criança, porém poderá trazer graves problemas para a família. A criança pode se tornar insistente em receber uma nova dose, ou pode querer compartilhar o seu pirulito com o irmão, e mesmo não fazer uso do produto inteiro, não recebendo a dose adequada. Isso tudo sem considerar que essa forma de apresentar os medicamentos vai contra a necessidade de se estimular hábitos saudáveis no combate à epidemia da obesidade infantil com a qual estamos convivendo.