A voz da consciência

Me respeita não me trata feito criança

28/10/2024
Me respeita não me trata feito criança | Jornal da Orla

Para você questionar a pessoa com deficiência dela ter ou não ter um namorado ou namorada, sei lá – você tem que ver a condição neurológica dela e a condição cognitiva, o entendimento do que acontece com seu corpo e se isso é preservado – ela pode o que ela quiser! 

Ou então, a gente criará colônias e jogará todos lá dentro, inclusive eu, deixando a gente ter

contato só com enfermeiros e profissionais de saúde. Cada dia que passa, me convenço que eu vou ter que começar a falar de sexo ou da vida sexual da pessoa com deficiência. Eu, até hoje, sempre me manifestei de forma abstrata sobre relacionamentos amorosos ou vida sexual.

Por exemplo: eu fiquei sabendo de um caso, envolvendo um? casal misto? não sei se é no Brasil ou não. 

Mas, uma moça com deficiência engravidou de um rapaz, creio que seja o marido dela ou namorado não sei. Mas tiveram um filho ou filha e a sociedade está agindo de forma cruel, com preconceito e discriminação. O que me faz pensar o seguinte: onde posso chegar ou qual é o meu limite, tem que ser definido por mim e por quem estiver comigo.

Antes era minha mãe, mas hoje é o meu irmão, e vou voltar a dizer uma coisa, já disse antes em outra coluna: a humanidade precisa definir o que espera da pessoa com deficiência!

Se nós somos pessoas produtivas, um relacionamento amoroso envolvendo a pessoa com deficiência independente, do gênero que seja, homem ou mulher, não pode ser considerado pelas pessoas, em qualquer lugar do mundo, uma aberração. Pelo contrário. 

Isso vale também para o Brasil e para Portugal, onde uma história de um casal atípico gerou polêmica, porque essa moça? que aparece aqui na foto? deu à luz a uma criança, fruto de um relacionamento com um homem considerado? normal? E ele está sendo criticado por isso. É que, infelizmente, ainda existe uma corrente de pessoas que acham que somos vulneráveis por sermos pessoas com deficiência e, portanto, devemos ser protegidos pelo Estado e por todos. 

Mas eu deixo uma pergunta para essas pessoas, vamos lá então: o ser humano é um ser físico ou ele é um ser mental, ou ainda é um equilíbrio entre esses dois fatores? Porque, se você considerar que o ser humano é um ser físico em relação à sua produtividade, nós pessoas com deficiência podemos sim ser assistidos pelo Estado e afastados de nossas famílias, sendo assim colocados em locais próprios para assistência e cuidados diários. Agora, se existe produtividade enquanto ser humano, ela vem da parte cognitiva e intelectual, e até emocional. Nós temos valores humanos, sendo assim, podemos ser mães ou pais. E tem mais: eu acredito que nós? APCD? somos um produto do equilíbrio entre mente e corpo. 

Isso não significa dizer, que a pessoa com deficiência não precisa de supervisão da família. Não é isso que estou dizendo. Estou dizendo que para alguém se aproximar de uma pessoa com deficiência é natural e ela precisa conquistar a confiança, não só da pessoa, mas da família que assiste esse indivíduo. A nossa sexualidade é uma troca de afeto, envolvendo as pessoas com deficiência e outras pessoas, com ou sem deficiência. 

A sexualidade da pessoa com deficiência precisa deixar de ser um tabu para a sociedade. E estou dizendo, principalmente, daquelas pessoas que tem a parte cognitiva intelectual preservada, ou seja, pessoas que sabem identificar o que se passa no seu próprio corpo, e sabem diferenciar o prazer do toque de uma dor física pelas imagens. 

 Li uma matéria num site chamado Ópera News – que é um operacional de internet? que essa moça em questão, não parece estar constrangida ou oprimida, ou qualquer coisa do tipo. Muito pelo contrário. Ela parece estar feliz com o fato de ser mãe? Será que ela realmente parece, mesmo olhando de longe, que ela é uma vítima de algum tipo de violência? 

O que me parece sim, é ser um caso devotíssimo: que são pessoas que se interessam por nós, pessoas com deficiência, sexualmente falando, mas também se interessam pela independência física de cada um de nós. 

Todas as vezes que ouço falar de um casal atípico, acabou ouvindo falar em devotes. Pelas imagens que vi na referida a matéria, me parece que se a condição física da moça tem origem na coluna.

Mas, se depender da sociedade, as pessoas com deficiência, seja qual for sua origem, seja ela adquirida ou natural, temos apenas os 8 direitos básicos, que são: fazer xixi, fazer cocô, se alimentar, se hidratar, tomar banho, dormir e respirar. A maioria das pessoas acham que isso já é o suficiente para nós, pessoas com deficiência. E, no caso do Brasil, por tudo isso, temos o direito receber o BPC!

Mas e aqueles como eu, que acreditam que podemos viver e alcançar tudo aquilo que queremos, respeitando as nossas condições físicas, será que somos considerados subversivos? 

Se for assim, confesso que eu prefiro ser subversivo! 

Eu acredito que podemos tudo sim! Por que não? Podemos e devemos conquistar alguém que nos aceite de acordo com o que somos, fisicamente falando. Por que eu digo isso?  Eu explico: porque a beleza física depende de cada um de nós, seres humanos. Então é o seguinte: toda essa conversa depende do preparo emocional e do quanto ela ou ele estão preparados para abraçar uma causa e atender suas necessidades no dia a dia. Necessidades específicas de cada condição física ou deficiência, como queira. 

Por exemplo, eu já ouvi alguém dizendo ou já li em alguma das edições anteriores dessa revista, escrito por alguém, que paralisado cerebral não tem vida amorosa.  

Eu posso dizer? por ter essa condição – que depende do comprometimento físico e clínico de cada pessoa. Posso dizer ainda mais, que a questão sobre a sexualidade é hoje, a que eu mais respondo hoje em dia, como fruto de curiosidade natural das outras pessoas, principalmente das moças com quem converso.

E eu sempre respondo a mesma coisa, mas que eu não vou dizer aqui. Sempre a mesma coisa, curiosamente, que? aquilo? da linha da cintura para baixo, funciona normalmente. Se é que você me entende. Porém, pretendo ser um homem de uma mulher só! 

O que eu percebo, infelizmente, é que a pessoa com deficiência e os seus subsegmentos, são tão nojentos? desculpe, mas não tenho outra palavra para descrever – pois um se acha melhor do que o outro. Esse é o verdadeiro obstáculo para a falta de inclusão social da pessoa com deficiência. Afinal, não é possível você falar de paralisia cerebral, generalizando, tratando como padrão físico da pessoa com paralisia cerebral, a pessoa acamada e totalmente dependente de auxílio. Você precisa ver, conhecer que existem casos diferentes um dos outros, porque isso depende da área do cérebro que foi atingida. Sinceramente, não sei se eu sou uma exceção à regra ou não? 

A minha condição física é de origem motora e a minha parte cognitiva e inteligência estão bem. A minha condição física é visível nos membros inferiores, e isso não me faz? especial? ou melhor ou pior do que ninguém! 

Isso faz sim eu ser eu mesmo! O que já está ótimo para mim.

No meu caso, vou dizer de forma resumida, a minha condição física é de origem motora! E o que eu posso dizer a você que vai ter acesso aqui à essa coluna é que, com certeza, ter uma vida sexual ativa é mais difícil para quem tem uma condição física natural, mas não é nada impossível. 

Tenho uma confissão a fazer para você: a vida com deficiência não é glamorosa. Muito pelo contrário; é uma vida cheia de dores. Repito: não é nada fácil de se viver no dia a dia, dependendo das características físicas que você tem. 

É preciso ser forte para suportar as dificuldades diárias da sua condição física. Vou dizer uma coisa para você: quem quer se aproximar da gente, precisa conquistar a confiança da nossa família ou daqueles que nos assistem diariamente nas atividades básicas, porque por trás de toda a pessoa com deficiência, sempre tem outra pessoa! 

A pessoa com deficiência é sim capaz de gerar atração física e sexual nas outras pessoas. Mas é preciso que você entenda o seguinte: você precisa estar disposto ou disposta a dar o suporte físico e social que a pessoa com deficiência precisa, para manter a sua integridade física, e ainda, sua qualidade de vida.

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