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Maud Martha, único romance da primeira mulher negra a receber o Pulitzer 

05/07/2023
Maud Martha, único romance da primeira mulher negra a receber o Pulitzer  | Jornal da Orla

São livros como Maud Martha que nos fazem, com uma boa dose de assombro, imaginar: quantas joias literárias escondidas existem por aí, esperando para serem descobertas, lidas e vividas? Livros que, por alguma ou sem qualquer razão, perderam-se no fio da história e não foram comunicados de mão em mão ao longo das gerações passadas e vindouras. Mas o resgate é sempre possível.

Este romance abre a vida de Maud Martha, uma negra da classe trabalhadora dos EUA nascida em 1917. Em estrutura belíssima – são pequenos capítulos, cada qual como se fosse um conto independente, mas sempre guiados pela linha de crescimento da personagem -, o livro expõe uma mulher que, apesar do mundo hostil que queria lhe inferiorizar, viveu com ternura, grandeza e amor. “Não foi uma vida ruim”, dirá Maud Martha com brutal lucidez.

A grande beleza do livro é pronunciar o singelo de forma extraordinária. Aqui, simplicidade e profundidade foram amalgamadas para produzir um resultado comovente: tocam-se os grandes sentimentos sem sentimentalismos rasos ou clichês. Sublime.

Motivos para ler:

1- Gwendolyn Brooks (1917-2000), uma das fundamentais escritoras dos EUA, despontou com sua forte poesia, o que lhe rendeu o Prêmio Pulitzer – a primeira mulher negra a recebê-lo. Maud Martha, publicado em 1953, foi seu primeiro e único romance;

2- Cada capítulo é uma pequena obra-prima. Destacaríamos – porque atingiram a perfeição no detalhe – os capítulos 18 e 33: no primeiro, o jovem casal nota, em desconforto, que são os únicos negros no cinema; no segundo, o Papai Noel do supermercado ignora a pequenina filha de Maud Martha;

3- Maud Martha nasceu em 1917. A epígrafe do livro atesta: “Ela ainda vive”. De fato. Estádios de futebol têm sido, atualmente, o palco para covardes racistas exporem seus vis preconceitos, o que recentemente rendeu o episódio mais vergonhoso da história desse esporte em Espanha. Maud Martha, Vini Jr. e tantos outros: jovens negros que, espetados por um mundo cruel, vivem suas vidas da melhor forma possível sem quedar à resignação.

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