Crônica

Marketing Tosco

18/01/2025
Marketing Tosco | Jornal da Orla

O prefeito de Guarujá, Farid Madi, postou nas redes sociais nesta semana um video bebendo água do mar. Colocou as mãos em forma de concha, pegou a água e bebeu. As imagens viralizaram. A televisão reproduziu. A repercussão foi enorme.
As reações foram as mais diversas possíveis. Algumas pessoas fizeram previsões pessimistas em relação à saúde dele nos próximos dias: problemas gastrointestinais, internação, soro na veia…Outras acharam que era fraude: que ele só fingiu que bebeu. Houve muita gente que reagiu apenas com uma interjeição: “ECA !!!”. Jovens definiram como “bizarra” a atitude de Farid.
Agora é esperar um comunicado da Federação dos Hotéis, Bares e Restaurantes do Estado, Fhoresp, pra saber se houve pelo menos uma reversão de cancelamento de reserva em hotel, em pousada ou de aluguel de imóvel para veraneio.
Foi uma enxurrada de cancelamentos. A Federação, que representa mais de 500 mil estabelecimentos, tinha divulgado um levantamento apontando que 19% das reservas no litoral tinham sido canceladas por causa das notícias do surto de gastroenterite e também de violência, principalmente arrastões. Foi o que motivou o prefeito.
É quase certeza que nenhum desses cancelamentos tenha sido revertido pela imagem insólita daquela beberagem. Nem que novas desistências sejam evitadas.
O prejuízo é gigantesco. A atividade turística, uma das principais vocações do litoral paulista, é limpa, rentável e emprega muitos trabalhadores diretamente, além de multiplicar postos de trabalho e de renda em outras atividades.
Mas pra manter esses empregos e essa geração de renda, é preciso planejamento e ação. Marketing só não basta. Nem o de atração, com publicidade nos meios de comunicação e nas redes sociais, nem o gesto tosco do prefeito para esconder problemas reais.
Farid deveria, isso sim, junto com os outros prefeitos do litoral, cuidar do abastecimento da água tratada; melhorar com treinamento o trabalho não só dos ambulantes mas de todos os trabalhadores que formam a cadeia turística; organizar, junto com o governo estadual, a segurança pública; cuidar da qualidade da água do mar, da areia da praia, da fiscalização das condições sanitárias dos restaurantes, bares e pousadas.
A cada investimento feito nessa direção, a atividade turística vai responder com maior movimento, maior renda e as prefeituras vão arrecadar mais impostos.
Trata-se de instalar um ciclo virtuoso.
É possível. O selo azul da Praia do Tombo, em Guarujá, mostra que é possível. A qualidade de alguns hotéis, bares, restaurantes e pousadas pode servir de referência.
O que não funciona é transmitir a imagem atual de descuido: esgoto chegando no mar, turistas sendo assaltados em arrastões, equipamentos de saúde lotados de pessoas com virose.
Diante desse quadro de precariedades, não adianta nem o Papa Francisco aportar na Praia da Enseada e beber a água do mar.