Depois de muita expectativa, finalmente um navio 366 vai atracar no Porto de Santos. Dois práticos da Praticagem de São Paulo estarão na manobra do porta-contêineres construído em 2011 e que navega sob bandeira da Libéria. Tem capacidade de 139, 7 mil toneladas, pode transportar até 14.432 TEUs e seu calado atual é de 11,2 metros. Tem comprimento total (LOA) de 366 metros e largura de 48,20.
Desde 2016 os práticos de São Paulo fazem treinamento e estão preparados para a operação, como afirma Fábio Mello Fontes, presidente da Praticagem de São Paulo. “Santos tem movimentação para receber esses navios, com ganhos pela tonelada transportada, pelo tempo de estadia do navio no porto entre espera, atracação, movimentação, desatracação. O tempo de movimentação reduz nesses navios e libera mais tempo de berço. Como a praticagem se adiantou aos desafios e treinamos bastante, estamos prontos para recebê-los. Claro que consideramos uma operação especial, o risco é maior e a margem de segurança é menor, mas vamos trabalhar com o máximo de cuidado e profissionalismo”.
Treinamento
Já homologados pela Autoridade Portuária de Santos, os navios 366 estão sendo aguardados para acompanhar a evolução do mercado mundial. Bruno Tavares, vice-presidente da Praticagem, diz que além do treinamento foram
dois anos de estudos para garantir toda segurança: “Nós inclusive conversamos com comandantes e práticos que operam navios dessas dimensões. Nossos profissionais participaram de simulações em centros de treinamento em Covington, nos Estados Unidos, e em simulador, no tanque de provas numérico da Universidade de São Paulo.”
Nas simulações, os práticos treinaram com navios tripulados, em lagos com relação de profundidade/calado iguais aos do canal de Santos. “É tudo proporcional à vida real, porém em escala reduzida, diferente de um simulador virtual. Você sente os efeitos hidrodinâmicos, diferentes de um simulador de manobras, que é como se fosse um videogame de última geração. Tudo é levado em conta para manobrar com tranquilidade no porto, mesclando segurança com produtividade”, acrescenta Tavares.
Além de contar com dois práticos a bordo, as manobras nesses navios sofrem limitações por conta de condições meteorológicas (ventos e correntes), necessitam de constante dragagem de manutenção e do gerenciamento do tráfego para evitar a interferência com outras embarcações. “Não podemos esquecer nenhum detalhe de segurança. Nós dependemos do trabalho de toda comunidade portuária para buscar o aprimoramento e a eficiência durante essa operação”, destaca Tavares, alertando que a praticagem usa o estofo da maré para fazer o movimento dos navios maiores buscando garantir mais segurança nas manobras.
Toda manobra é monitorada no Centro de Coordenação, Comunicações e Operações de Tráfego (C3OT) instalado na sede, com Sistema de monitoramento de tráfego por AIS; Equipamentos de sensoriamento remoto de correntes, de ventos, altura das marés, altura e período das ondas, visibilímetros, batimetria e Redraft, sistema para gerenciar equipamentos de sensoreamento remoto de correntes e ventos, altura das marés, altura e período das ondas.
O vento é um dos maiores desafios na manobra desses navios, revela o prático Carlos Alberto Souza Filho: “Certa vez eu estava manobrando um navio de 330 metros, fazendo o giro para atracação, e conversando com o comandante eu disse que estávamos nos preparando para receber os navios de 366 metros. Ele disse: – prático, muito cuidado, não é apenas um navio com mais 36 metros. Esses navios têm uma área vélica, como dizemos, acima da linha d água, que é o costado do navio mais os contêineres de carga, muito superior aos navios manobrados em Santos, de até 340 metros. Ou seja, sofrem uma influência do vento de maneira mais significativa. Os navios de 366 têm apenas 74 metros quadrados de área de leme e a capacidade de fazer curva e de guinar muito menor do que os navios de 330 metros”.
Souza Filho explica que quando o leme é acionado, atua para um lado ou para o outro, oferecendo resistência. “A questão do tamanho do leme é importante, pois o Porto de Santos é muito sinuoso. Temos duas curvas significativas, uma no Ferry Boat e outra no Armazém 12, muito acentuadas. Justamente nesses casos, é necessário usar o rebocador no modo indireto com cabo passado por dentro na popa do navio. Ele age como um leme extra”.
Quando os práticos fizeram o treinamento em Covington (US) , a Praticagem de São Paulo encaminhou as batimetrias do canal de Santos, com as duas curvas e a constituição do Terminal da BTP, que é o mais distante e o mais reduzido. “Fizeram a curva, a bacia da evolução, tudo em modelo de escala (1 para 25) e a razão entre o calado do navio e a profundidade local. Treinamos em condições muito semelhantes às originais, inclusive com o uso dos rebocadores”, completa Souza Filho.
Até agora, o Porto de Santos recebeu embarcações de até 347 metros de extensão, com capacidade para cerca de nove mil TEUs. “Santos é um porto de agronegócios, recebe navios carregados que precisam de dragagem de manutenção. Os navios sempre serão grandes e pesados, por isso é necessário um trabalho conjunto com todos os entes envolvidos na operação, trazendo inteligência para aproveitar melhor o nosso porto, dentro das limitações”, conclui Souza Filho.