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Maio Roxo – Mês de conscientização sobre as doenças inflamatórias

17/05/2022
Maio Roxo – Mês de conscientização sobre as doenças inflamatórias | Jornal da Orla

Bianca Schiavetti

Maio roxo é o mês de conscientização sobre as doenças inflamatórias intestinais, pois 19 de maio é o dia mundial da DII. As doenças inflamatórias intestinais, representadas pela Doença de Crohn e Retocolite ulcerativa, são doenças crônicas que ainda não tem cura.

O diagnóstico muitas vezes é demorado, assim como a instituição de tratamento adequado, e há pouca oferta de profissionais especializados;
Uma das grandes dificuldades se dá pela ausência de sintomas específicos.

Na Retocolite ulcerativa, o processo inflamatório é restrito ao cólon (intestino grosso). O sintoma mais comum é a diarreia, muitas vezes com presença de sangue e muco, precedida de cólica abdominal intensa.

Já na doença de Crohn, todo o tubo digestivo pode ser acometido, desde a boca até o ânus. Os sintomas vão depender da localização da doença, mas a dor abdominal crônica é o mais frequente. Comum os pacientes apresentarem perda de peso e anemia sem explicação. Além de complicações inerentes da doença, como fístulas e estenoses.

Nas crianças, o retardo do crescimento com baixa estatura e baixo peso podem ser o único sintoma até por anos antes da primeira manifestação intestinal.

De causa multifatorial, sabemos que é necessário ter uma alteração genética, por isso cerca de 10% dos pacientes tem histórico familiar de doença inflamatória intestinal. Esses indivíduos com predisposição genética são expostos aos chamados gatilhos ambientais (dieta industrializada, tabagismo, excesso de uso de antibióticos, infecções…), mudando sua microbiota e alterando seu sistema imunológico gerando o início da inflamação.

Estima-se que já são cerca de 10 milhões de pacientes no mundo. Dados recentes mostram aumento da incidência e da prevalência das doenças inflamatórias intestinais no brasil com taxas médias de 80/100.000 habitantes, sendo no estado de São Paulo 144/100.000 habitantes.

Podem acometer todas as idades, mas há uma maior prevalência nos adultos jovens, entre 15-35 anos. Trabalhos recentes, inclusive no brasil, mostram discreta prevalência nas mulheres.

Como a doença não tem cura, o objetivo do tratamento é o controle total da inflamação, o que chamamos de remissão. Para isso é necessário o uso de medicamentos de forma contínua, podendo ser orais ou injetáveis (os imunobiológicos).

De acordo com dados do DataSus de 2021, 1017 pacientes da baixada santista retiravam algum medicamento para essas doenças na farmácia de alto custo da região (DRS IV). Sem contar aqueles que fazem seus tratamentos comprando os remédios ou através da saúde suplementar (convênios).

Para os pacientes particulares ou que possuem um convênio médico, a jornada para o diagnóstico e tratamento pode ser facilitada.

No instituto Mendonça Costa, por exemplo, consigo fazer meu atendimento, ter acesso ao exame de colonoscopia que é o mais utilizado na grande maioria dos pacientes, e ainda conto com a coloproctologia para os casos nos quais a intervenção cirúrgica seja necessária.

Mas, na saúde pública, esse caminho pode ser mais dificultoso. Santos é a única cidade da baixada santista que possui ambulatório especializado no sus, ele acontece no Ambesp da zona noroeste e contabiliza hoje pouco mais de 200 pacientes em acompanhamento regular.

O impacto que estas doenças trazem para a sociedade, tanto no que se refere à perda de qualidade de vida, como no afastamento das atividades de trabalho, é imenso.

De acordo com um trabalho brasileiro de farmacoeconomia, os afastamentos representam 0,01% do total de beneficiários e 1% do valor total pago, o que corresponde a cerca de 98 milhões de dólares. A média do tempo de afastamento do trabalho foi de 314 dias. Seguramente decorrentes da falta de controle adequado da doença.

A única forma de mudar a história natural destas doenças é o diagnóstico precoce e a correta instituição e acesso ao tratamento.

Necessidade de atendimento e acompanhamento referenciado e especializado, de preferência multidisciplinar. Desta forma, emprega-se melhor os recursos tanto para diagnóstico como para tratamento, diminuindo custos com exames desnecessários, tratamentos inadequados, internações e cirurgias, além de diminuir o absenteísmo.

Bianca Schiavetti – CRM 109436/SP. Médica Gastroenterologista

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