Inclusão

Mães atípicas encontram no empreendedorismo uma oportunidade de renda e inclusão

10/05/2025 Fúlvio Feola
Nathalia Alves / Unisantos

Nathalia Alves – Material produzido por alunos da Agência de Jornalismo UniSantos, com supervisão do Jornal da Orla

 

“É importante entender que representatividade e inclusão são coisas diferentes. Um brinquedo só é inclusivo quando todos conseguem brincar”. Foi com esse pensamento que a advogada, tradutora e artesã Cristina Atanes dos Santos, de 45 anos, mãe de dois filhos neurodivergentes, viu na criação de brinquedos uma forma de contribuir para o desenvolvimento infantil dos filhos e conseguir uma renda. Essa nova conexão deu origem ao projeto de vida da artesã: brinquedos educativos e inclusivos.

 

Parte desse trabalho vem da percepção materna sobre os fatores sensoriais e cognitivos que influenciam o cotidiano. Um desses fatores, com o qual Cristina busca trabalhar, é com tecido do brinquedo, mas não se limita a isso. Para ela, os brinquedos contribuem diretamente para que a criança consiga expressar alguns sentimentos enquanto exploram o ambiente externo: claro que só a textura não é suficiente para inclusão. Com o brinquedo, você precisa trabalhar a coordenação motora, a atenção e a concentração. Tudo isso deve ser pensado”, afirma a artesã Arte e neurodivergência.

 

A artesã, fotógrafa e mãe atípica, Danielle Quartarolli, de 46 anos, encontrou na arte não apenas uma profissão, mas uma transformação interna e externa ao se deparar com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (TEA) do filho mais novo. A maior surpresa, no entanto, veio depois: ela própria também recebeu o mesmo diagnóstico.  “Quando meu filho recebeu o diagnóstico, fomos inundados por informações. Comecei a pesquisar intensamente e, no processo, percebi que minhas próprias diferenças faziam sentido”, relata Danielle, afirma ela que ainda não tinha compreendido a própria neurodivergência.

“Agora, quero que meu filho tenha o acolhimento que eu não tive”.  Foi dessa jornada de autodescoberta que nasceu o ‘Dona Dani: Objetos Peculiares’, empreendimento que une sua mente criativa, paixão pela arte incomum e a sensibilidade de quem vivencia a  neurodivergência. “Minha arte sempre dialogou com memórias afetivas. Hoje, ela fala também sobre nossa experiência como mãe e filho atípicos”, explica.

 

Vencendo barreiras

Danielle enfrenta uma dupla barreira, ser mulher e artista em um mercado que ainda impõe preconceitos. “Quando homens apresentam minha mesma técnica, chamam de escultura. Quando sou eu, preciso ser convencido de que é arte”, desabafa. Seu trabalho desafia não apenas convenções artísticas, mas também estereótipos sobre neurodivergência e maternidade.

 

Segundo a artista, ainda há muita autossabotagem por parte das mães ao iniciar um negócio. “Existem muitas questões ligadas à confiança das mulheres. Antes de empreender, muitas precisam vencer barreiras de sempre duvidar do próprio trabalho”, explica.

 

Como Danielle, Jessika Rodrigues Ribeiro Suzuki, de 33 anos, vê que a falta de rede de apoio é um dos problemas que muitas mães empreendedoras precisam conciliar tudo sozinhas: “Infelizmente nós mulheres muitas vezes somos vistas como incapazes de gerir o próprio negócio. Somos subestimadas”, desabafa.

Formada em balé e em administração, Jessika juntou as sapatilhas com o mundo das pizzas em uma reviravolta de empreendedorismo, maternidade atípica e superação. O diferencial do estabelecimento é a massa sem leite e derivados — uma adaptação necessária devido à alergia alimentar do filho, que também foi diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela e sua família encontraram na culinária uma forma de conciliar as necessidades do filho e o desejo de estar mais presente na vida familiar.

 

“Desconfiamos porque ele não interagia, fazia muitos movimentos repetitivos e tinha grande seletividade alimentar. O diagnóstico veio aos 3 anos de idade e quando abrimos a pizzaria queríamos que ele pudesse comer e se sentisse incluído”, comenta Jessika.

 

Para complementar a renda, Jessika mantém suas raízes artísticas, dando aula de dança do ventre em uma escola de dança na Praia Grande. Para ela, a rotina de administrar negócios, aulas, os cuidados especiais com o filho e a maternidade exige jogo de cintura. “Tem dias que o desespero quase vence, mas então lembro que tudo isso é pelas crianças”, confessa.