Na primeira eleição que disputou, em 1988, Jair Bolsonaro declarou à Justiça Eleitoral os bens que possuía: um Fiat Panorama, uma moto e dois pequenos lotes na cidade de Resende (RJ). Em 2018, ao disputar a eleição presidencial, declarou ter patrimônio de R$ 2.286.779,48. Mas a riqueza parece ser muito maior, conforme indicam as investigações do esquema conhecido como “rachadinha” — nome jocoso para designar um esquema de apropriação de dinheiro público.
Documentos oficiais revelam que Jair Bolsonaro e familiares negociaram 107 imóveis, sendo 51 deles em dinheiro vivo. Entre eles, uma mansão de mil metros quadrados em Brasília que um dos filhos, Flávio, afirma ter adquirido por R$ 6 milhões.
Esta impressionante evolução patrimonial de Jair Bolsonaro está descrita em “O negócio do Jair”, livro da jornalista Juliana Dal Piva, que participa neste sábado (19), às 19h, da Tarrafa Literária, no Teatro Guarany.
Em entrevista ao OrlaPlay, Dal Piva relata que o livro começou a surgir ao acompanhar as investigações do esquema de rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro, no qual o assessor Fabrício Queiroz recebia os salários dos funcionários. “Foi ficando mais claro o envolvimento do Bolsonaro no esquema de corrupção e também de várias pessoas da família”, explica. “Isso destoava deste discurso de fim da mamata, moralista, que ele tenta emplacar”.
De tão profunda e rica em depoimentos e documentos, a apuração resultou em um podcast para o portal Uol, “A vida secreta de Jair” e, em seguida, na produção do livro, lançado no começo do ano. “Os números chamam muito a atenção, são valores altíssimos”.
A jornalista destaca que existem vários episódios de uso de dinheiro público para interesses privados, como no reembolso de combustível apresentando notas fiscais com valores superfaturados e o recebimento de auxílio-aluguel mesmo tendo imóvel próprio em Brasília.
Ameaças
Juliana revela que, ao longo do processo de apuração das informações, chegou a sofrer ameaças. “O advogado do Bolsonaro, Frederico Wassef, me mandou uma mensagem dizendo que, se eu trabalhasse na China e não no Brasil, nem meu corpo ia aparecer. Outra vez, eu estava cobrando uma resposta e ele me disse que o Rio de Janeiro era uma cidade muito perigosa e eu poderia levar um tiro na cara. Ele construiu um jeito de me falar uma coisa bastante intimidatória”, afirma.
Jair após o mandato
A jornalista avalia que muitas investigações e processos, que atualmente são morosos ou simplesmente estão parados, vão começar a andar após o fim do mandato de Bolsonaro como presidente.
“Estava todo mundo esperando o fim do processo eleitoral. Os investigadores não queriam ser vistos com pessoas que estavam tentando influenciar no resultado eleitoral. Mas eu acho que os casos tendem a andar, sobretudo na Procuradoria-Geral da República. Existe uma expectativa enorme de que esses casos finalmente comecem a ser apurados”, completa.
Confira a íntegra da entrevista com a jornalista Juliana Dal Piva, na qual ela dá detalhes do processo de elaboração do livro.