Mulheres ganham menos, apesar de terem mais formação educacional
Se tudo der certo, a igualdade profissional entre homens e mulheres no Brasil só será atingida em 2096 —portanto, daqui a 74 anos. É o que mostra o estudo “Perfil social, racial e de gênero”, feito pelo Instituto Ethos com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), com dados das 500 maiores empresas do país, em 2016.
Mais homens do que mulheres trabalhando
Apesar de ligeiras melhoras nas últimas décadas, é gritante o fosso de gênero no mercado profissional. Embora elas representem 51,4% da população brasileira, apenas 54,5% das mulheres em idade economicamente ativa integram o mercado de trabalho, enquanto entre os homens a participação é de 73,7%. É o que revela o estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”, divulgado em 2021 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com dados de 2019.
Mulheres ganham menos que homens
As mulheres ganham menos que homens ocupando a mesma função: em média, elas recebem 77,7% do salário dos homens. A desigualdade aumenta conforme for maior a responsabilidade do cargo: entre diretores e gerentes, as mulheres receberam 61,9% do rendimento dos homens.
Relatório Global de Gênero do Fórum Econômico Mundial, reforça esta disparidade. Ele indica que apenas 39,4% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Outro levantamento, feito pela agência de governança corporativa BR Rating com 486 empresas que empregam de 200 a 10 mil funcionários, mostra que apenas 16% das companhias têm mulheres em cargos de diretoria.
A disparidade nada tem a ver com qualificação, já que a proporção de mulheres com nível superior no Brasil é maior do que a de homens: 19,4% delas têm faculdade; entre eles, o índice é de 15,1%.
Segundo o analista do IBGE André Simões, existem “barreiras estruturais” impedindo que a mulher ocupe postos de maior complexidade e, consequentemente, de maior remuneração.
“Na esfera cultural, a mulher ainda é vista como a pessoa que deve assumir a função reprodutiva e de cuidados domésticos, enquanto os homens ainda são encarados como os provedores do lar”, explica.
Dupla jornada
Esse vício cultural é evidenciado pela distribuição da dupla jornada (trabalho profissional e tarefas domésticas) entre brasileiros e brasileiras. O estudo do IBGE mostra que os homens dedicaram 11 horas semanais para afazeres domésticos, enquanto as mulheres praticamente o dobro, 21,4 horas por semana.
A necessidade de trabalhar em casa (inclusive cuidar dos filhos) obriga um terço das mulheres a trabalhar em tempo parcial, isto é, até 30 horas semanais. Esse tipo de situação se verificou em apenas 15,6% entre os homens empregados.
“Esses dados evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas a favorecer a ocupação das mulheres no mercado de trabalho. A oferta de creches, por exemplo, por si só poderia aumentar a participação delas, porque elas teriam onde deixar os filhos enquanto trabalham”, avaliou o analista da pesquisa André Simões. Ele acrescenta que a dupla jornada acaba direcionando as mulheres para trabalhos com menor remuneração.
Mais empreendedoras
No Brasil, há mais mulheres empreendedoras do que homens. Pesquisa realizada pela Global Entrepreneurship Monitor 2020, em parceria com o Sebrae, mostra que dos 52 milhões de empreendedores no Brasil, 30 milhões (57,7%) são do sexo feminino. Mas o cenário revela uma necessidade, de acordo com estudo feito pela Rede Mulher Empreendedora, que mostrou que 75% das mulheres abrem uma empresa após a maternidade por ser a única maneira encontrada por elas para continuar trabalhando e tomando conta dos filhos.
Política
Na política, a participação feminina aumentou mas ainda é pouca. A proporção de deputadas na Câmara Federal subiu de 10,5%, em 2017, para 14,8%, em 2020. Nos municípios, a situação é um pouco melhor, mas ainda desanimador: apenas 16% dos vereadores eleitos no país em 2020 foram mulheres.
Ambiente de trabalho machista
Uma pesquisa realizada pela consultoria RingCentral traz dados que mostram, embora de maneira velada, como os ambientes de trabalho são machistas. O estudo mostra que 50% dos homens se sentem apoiados pelo chefe, enquanto esse apoio é sentido por apenas 39% das mulheres. E mais: 29% das mulheres se sentem desconfortáveis para propor ideias arriscadas, enquanto este índice entre os homens é praticamente a metade, 16%. O levantamento também mostra que 56% dos homens veem no chefe um amigo, enquanto somente 47% das mulheres têm esse mesmo sentimento.