Henrique Morelenbaum, considerado um dos mais proeminentes maestros e diretores musicais do Brasil, morreu há alguns meses no Rio de Janeiro, aos 90 anos.
“Ele foi uma das personalidades mais importantes da vida musical brasileira nos últimos 70 anos, como instrumentista, maestro, professor e administrador. Ele deixou sua marca nas instituições onde trabalhou”, dizia uma homenagem postada pela Academia Brasileira de Música, da qual Morelenbaum era membro ativo.
Nascido na Polônia em 1931 como Saul Herz Morelenbaum, Henrique Morelenbaum chegou ao Rio aos 3 anos de idade, onde teve seu nome alterado. Aos 16 anos, naturalizou-se brasileiro.
O resto de sua extensa família foi morta no Holocausto.
“Tanto das enormes famílias de meu pai quanto de minha mãe, não sobrou ninguém”, disse ele em uma entrevista.
Depois de frequentar uma escola pública, Morelenbaum recebeu uma bolsa de estudos para frequentar a escola judaica local Sholem Aleichem, posteriormente estudando violino, viola, regência e composição após o ensino médio, na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde fez seu doutorado e foi professor de Música.
O início da carreira de Morelenbaum como regente aconteceu casualmente em 1959, num espetáculo onde Margot Fonteyn era a artista principal, Morelenbaum assumiu a batuta em virtude de um impedimento repentino do regente que anteriormente havia sido programado.
Em 1956, integrou o Quarteto da Rádio MEC, do Rio de Janeiro.
Em 1972, recebeu na Associação Paulista de Críticos de Arte o prêmio de Melhor Regente do Ano.
O músico ainda seria diretor-chefe da Sala Cecília Meireles por duas ocasiões (1965-1966 e 1987-1991) e, também por duas ocasiões, dirigiu o Theatro Municipal do Rio de Janeiro, na qual onde ainda foi maestro do Coro e da Orquestra desta instituição. Ocupou a cadeira de nº 16 da Academia Brasileira de Música.
Foi também em 1957 que o Coral Israelita Brasileiro passou a ser regido pelo maestro Henrique Morelenbaum, que muito contribuiu para o seu crescimento qualitativo.
O coral havia sido criado em maio de 1954, por um grupo de ativistas pertencentes ao Instituto Israelita Brasileiro de Cultura e Educação (IIBCE), do Rio de Janeiro, com a preocupação de preservar a cultura musical do povo judeu.
Fundou o Coro Orfeônico que hoje exibe o nome de Coral Israelita Brasileiro.
No início, dirigido por um sobrevivente do Holocausto, o maestro I. Fater, reuniam-se cerca de 30 componentes, para ensaiar músicas do folclore judaico. Com a mudança do maestro I. Fater para Israel, em 1957, o Coral passou a ser regido pelo maestro Henrique Morelenbaum. O repertório foi enriquecido com músicas brasileiras, internacionais e obras clássicas. Haendel, Haydn, Bach, Mozart, Beethoven, Mahler, Mendelsohn, Schoenberg, Fauré e Berenstein se misturam com obras em iídiche, ladino e hebraico
Ao longo de uma carreira intensa, Morelenbaum frequentemente regeu concertos sinfônicos, óperas e balés. Como parte de seu vasto repertório contemporâneo internacional, foi responsável pela estreia brasileira de “Kol Nidre” do famoso compositor Arnold Schoenberg, uma peça orquestral que leva o nome da oração do Yom Kippur.
Morelenbaum também regeu o Coro Israelita Brasileiro e compôs o hino da Associação Kinderland, um conhecido acampamento de verão judaico do Rio fundado em 1952.
Atuou como dirigente de diversas instituições musicais, tendo dirigido em diferentes momentos as principais orquestras do Brasil também regido pela América Latina e Europa.
No exterior, Morelenbaum regeu orquestras em países do Leste Europeu, tais como a Hungria e a Polônia (seu país natal). Em 1973, foi o único brasileiro a ser convidado para participar da temporada de balé da Ópera de Paris.
O músico também teve importante papel na difusão de compositores brasileiros ao gravar obras dos maestros Heitor Villa-Lobos, Francisco Braga, Leopoldo Miguez e Radamés Gnatalli.[7] Ainda seria responsável pelas estreias brasileiras de obras fundamentais da história da música, como as óperas “Peter Grimes”, de Benjamin Britten, e “The Rake’s progress”, de Igor Stravinsky Morelenbaum formou mais de uma geração de compositores, incluindo o ex-diretor da Sala Cecília Meireles, Ronaldo Miranda, e o atual, João Guilherme Ripper.
O maestro Morelenbaum morreu de causas naturais. Seu filho, o também famoso violoncelista Jaques Morelenbaum, estava em turnê no exterior e lamentou a morte de seu pai escrevendo nas redes sociais:
“Agradeço ao meu pai por todo o carinho, o legado de busca incessante de conhecimento e de evolução, de justiça e amor, de amor à música e à arte em geral como forma de construção da beleza espiritual”.
O enterro de Henrique Morelenbaum ocorreu no Cemitério Israelita de Vila Rosali, em São João de Meriti, Baixada Fluminense.
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