Saúde

Gravidez na adolescência: os impactos físicos, psíquicos e sociais

08/07/2022
Gravidez na adolescência: os impactos físicos, psíquicos e sociais | Jornal da Orla

Evasão escolar e transtornos mentais estão entre consequências da gravidez precoce

A gravidez precoce resulta em impactos físicos, psicológicos e sociais na criança ou adolescente. Os número de casos no Brasil é 50% maior que a média mundial. A taxa mundial é estimada em 46 nascimentos por cada mil meninas, enquanto no Brasil estão estimadas 68,4 gestações nesta fase da vida.

Segundo o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos, do governo federal, em 2020 foram 380,7 mil gestações em crianças e adolescentes entre 10 e 19 anos.

A situação é ainda mais preocupante entre as crianças de 10 a 14 anos. Em 2020, foram registradas 17,5 mil mães nesta idade. No Nordeste do Brasil, o cenário é ainda mais assustador: foram 61,2 mil mães desta faixa etária.

Na última década, a região Nordeste foi a que teve mais casos de gravidez com este perfil: foram 61,2 mil, seguido pelo Sudeste, com 42,8 mil.

Riscos para mãe e bebê

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a mortalidade materna é uma das principais causas de óbito entre adolescentes e jovens de 15 a 24 anos na região das Américas. Globalmente, o risco de morte materna se duplica entre mães com menos de 15 anos em países de baixa e média renda. As mortes perinatais são 50% mais altas entre recém-nascidos de mães com menos de 20 anos na comparação com recém-nascidos de mães entre 20 e 29 anos.

“A adolescente está em plena fase de formação fisiológica, e uma gestação nesse período acaba gerando uma série de riscos para mãe e bebê, a começar pelo duplo anabolismo, quando há uma competição biológica entre a mãe e o feto pelos mesmos nutrientes”, afirma Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, Membro da FEBRASGO e Especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein.

Segundo ele, o risco acontece principalmente em menores de 16 anos ou quando a ocorrência da primeira menstruação foi há menos de dois anos.

Fatores de risco da gravidez precoce

– A bacia não estar desenvolvida o suficiente para o parto (desproporção pélvica-fetal)

– Pré-eclâmpsia

– Rotura Prematura de Membranas Ovulares

– Infecção do Trato Urinário

– Doenças hipertensivas

– Síndromes hemorrágicas

– Depressão pós-parto

Complicações neonatais na gravidez precoce:

– Prematuridade

– BPN (baixo peso ao nascimento)

– Crescimento intrauterino retardado

– Má formação de órgãos

Estas complicações estão associadas ao ingresso tardio do pré-natal e, consequentemente, ao seguimento incorreto do prognóstico materno e perinatal. “Os ciclos menstruais irregulares nos dois anos pós-menarca, a falta de conhecimento do próprio corpo e a não aceitação da gravidez são alguns dos motivos que atrasam o início do pré-natal”, pontua o ginecologista.

Associado a isso, há a frequente exposição materna a medicamentos, álcool, tabaco e outras drogas no início de uma gestação ainda não identificada ou reconhecida pela adolescente.

“O binômio informação e acesso aos centros de saúde são os que ditam as regras da contracepção, pois a maioria não sabe se prevenir de forma adequada, não compreendendo o funcionamento de cada método, utilizando-o de maneira errônea ou, simplesmente, abandonando seu uso por questões pessoais”, alerta Carlos Moraes.

Daí a importância do acesso à educação sexual, seja para prevenir uma gravidez precoce como para evitar infecções sexualmente transmissíveis.

Como fica a saúde mental com a gravidez precoce?

“Se uma gravidez para uma mulher madura já envolve uma série de sentimentos conflitantes, imagine para uma menina?”, reflete Danielle H. Admoni, psiquiatra geral e da infância e adolescência, preceptora na residência da Escola Paulista de Medicina Unifesp e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria).

Segundo ela, a adolescência é o período de formação da personalidade, da identidade, da criação de vínculos sociais. É uma fase de descobertas e de preparação para a vida adulta. Com a gestação, este ciclo natural se rompe.

“A gravidez precoce exigirá que a adolescente deixe de ser apenas filha e passe a assumir o papel de mãe. Com os hormônios da adolescência a mil, mais os hormônios gerados pela gestação, a menina estará mais suscetível a desenvolver transtornos mentais, principalmente depressão pós-parto e até psicose puerperal. Nestes casos, o acompanhamento psiquiátrico será fundamental”.

Impactos na vida social da gravidez precoce

De acordo com o Ministério da Saúde, 66% das gestações entre adolescentes são indesejadas. Além disso, segundo o Ministério da Educação, 18% dos motivos de evasão escolar estão relacionados à gravidez na adolescência. Dados do IBGE mostram que a proporção de adolescentes e jovens brasileiras de 15 a 19 anos que não trabalham ou não estão na escola são maiores do que aquelas que nunca tiveram filhos.

De fato, uma gravidez tem impacto na vida toda, desde a rotina com os amigos e os momentos de lazer, até os estudos e as escolhas profissionais. As prioridades mudam radicalmente, fazendo com que a adolescente tenha que se desdobrar para cuidar do bebê e, ao mesmo tempo, não deixar outras responsabilidades de lado.

“Por isso, a efetivação dos direitos das meninas, adolescentes e mulheres jovens como mães deve levar em consideração a importância de frequentar a escola e ter oportunidades de participar de atividades sociais e espaços para mães na mesma situação. Tudo isso incentiva as adolescentes a não pararem no tempo e planejarem seu futuro profissional. Pais e escola devem ser parceiros nesta jornada, juntos com os adolescentes e jovens. Geralmente, são os dois referenciais mais fortes que os indivíduos têm nessa fase da vida”, finaliza Danielle Admoni.