Fronteiras da Ciência

Falta de Tempo

24/02/2023
Unsplash

O mundo precisa de pais que saibam ouvir com atenção a narrativa ofegante da criança que chega da rua, da escola, da creche.

Sabe, meu filho, até hoje não encontrei tempo para brincar com você.

Arranjei tempo para tudo, menos para vê-lo crescer. Nunca joguei dominó, xadrez ou empinei pipa com você.

Sabe, sou muito importante. Não tenho tempo para sentar no chão com você.

Certa vez você veio com o caderno da escola. Não liguei. Continuei lendo o jornal. Afinal, os problemas internacionais são mais sérios que os de minha casa.

Qual a importância de eu saber se hoje você venceu ou perdeu a corrida na escola?

Amanhã, quando eu estiver no meu trabalho, preciso saber dos fatos que implicam nos meus afazeres profissionais.

São esses assuntos que me tornam importante aos olhos dos outros e que permitem que eu cresça no mundo dos negócios.

Nunca vi o seu boletim, nem sei qual foi a sua primeira palavra.

Eu não reparo em quase nada. Minha vida é muito corrida.

Sei que você se queixa, que sente falta de uma palavra minha, de um corre-corre, de um chute na sua bola.

Sei que você sente falta do meu abraço e do meu sorriso. Mas não tenho tempo.

Eu sou muito trabalhador e preciso dar atenção a muita gente no meu trabalho.

Sei que você fica chateado, porque as poucas vezes que conversamos, só eu falo, e a maior parte é bronca.

Quero silêncio! Quero sossego! E você tem a péssima mania de pular sobre a gente, de agarrar, querer contar tudo que lhe acontece.

Filho, não tenho tempo para abraçá-lo para ficar com papo-furado com criança.

Tenho muitos cursos a frequentar, muitas coisas a aprender.

Mas o pior de tudo é que, se você morrer agora, já, neste instante, eu ficaria com um peso na consciência, porque até hoje não arrumei tempo para brincar com você.

E sei que nada iria preencher o vazio que sua ausência deixaria em nossa casa. Oh, filho, por que eu não consigo arrumar tempo para estar com você?

[com base no livro de Hiran Rocha e na Red. do Momento Espírita]

O mundo sente falta de homens que sejam pais. De homens que, após o dia das tarefas exaustivas, saibam ser doces e se debruçar sobre o berço do pequeno que dorme e o acariciem.

O mundo precisa de pais que saibam ouvir com atenção a narrativa ofegante da criança que chega da rua, da escola, da creche.

Esses pais formarão cidadãos nobres, homens dignos que se preocuparão com os demais, porque desde cedo aprenderam que o amor e a dedicação são peças indispensáveis para o mundo melhor que todos desejamos.

Pense nisso, antes que seja tarde demais.

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