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Fahrenheit 451, um alerta contra o autoritarismo

26/01/2022
Fahrenheit 451, um alerta contra o autoritarismo | Jornal da Orla

Qual o papel da ficção em nossas vidas? Para que servem os romances? Por que contamos histórias? O escritor Pamuk (Nobel de 2006) respondeu bem: “O romance é uma segunda vida. Foi levando os romances a sério que aprendi a levar a vida a sério. A história não é oca”. Já Bradbury, com seu clássico Fahrenheit 451, lançou um alerta em forma de livro. Para ele, “a ficção é uma mentira que nos diz verdades repetidas vezes. Ela é preventiva”.

O livro vislumbra o futuro numa sociedade parecida com a nossa, porém muito tecnocrata, pragmática e guiada por uma ideologia governamental opressiva. A pluralidade de pensamento foi substituída por uma aloprada e parametrizada “moral da pátria e da família”. Ler se tornou um ato subversivo: os bombeiros, que outrora apagavam incêndios, agora invadem as casas dos cidadãos em busca de livros para queimá-los.

A tragédia de Montag, bombeiro em crise existencial e herói da trama, é a estória de um homem que resolveu, enfim, se importar. Para isso também serve a ficção: é lendo sobre outras vidas e vendo por olhos alheios que ganhamos empatia. E é assim que passamos a nos importar com os outros.

Motivos para ler:

1- Com este livro, Bradbury escreveu um tratado ficcional contra o autoritarismo. Publicado em 1953, Fahrenheit 451 é lido por gerações e se mostra sempre atual; afinal, em todas as épocas surgem infelizes com ideais perversos. Um clássico literário;

2- A faiscante metáfora do livro é clara: governos autoritários são avessos à educação plural. Não aceitam críticas e reagem a elas com violência. Querem serviçais mansos como gado no pasto, não cidadãos. O antidemocrático deseja o culto à mediocridade porque quer cidadãos domesticados;

3- “Existem vários modos de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos.” Desmerecer as instituições intelectuais (livros, universidades, pensamento científico) é prática primeira do manual autoritário. Há centelhas dessa ideologia aqui: o ataque à autonomia das renomadas universidades, a censura de livros clássicos pela Fundação Palmares, o absurdo discurso presidencial criticando livros porque “têm muita coisa escrita”, a inacreditável emulação do discurso nazista de Goebbels pelo Secretário de Cultura, o negacionismo antivacina.  Os sinais despontam. É hora de se importar.

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