Metrópole

Estudo aponta contaminação por microplásticos em camarões do litoral

08/02/2025 Josi Castro
Fernando Yokota

Amostras de camarões sete barbas coletadas em Santos e em Cananéia apresentaram contaminação por microplásticos em seu trato digestivo. É o que aponta um estudo em fase preliminar realizado pela Unesp, de Bauru, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).

O trabalho é parte do Programa BIOTA, que investiga o acúmulo dessas partículas em crustáceos e seus potenciais riscos para a saúde humana. Daphine Herrera, pós-doutoranda e bolsista da FAPESP, que lidera o projeto, explica que a pesquisa é realizada em duas regiões com características ambientais bastante contrastantes.

Por um lado, a Baixada Santista, que abrange áreas portuárias, industriais e pesqueiras com grande impacto ambiental; de outro, Cananéia, uma região considerada de menor intervenção humana e mais preservada, no litoral sul de São Paulo.

Os primeiros resultados do levantamento apontam dados alarmantes. Fragmentos de microplásticos (polímeros) apareceram no trato gastrointestinal dos cerca de 80% dos camarões avaliados até o momento. Embora a quantidade de partículas varie entre os locais, o fato de a contaminação estar presente em uma porcentagem tão alta dos animais levanta questões sobre consequências a longo prazo.

“Nossa proposta é comparar como camarões de ecossistemas tão diferentes respondem à exposição a microplásticos”, explica Daphine. A pesquisadora viajou para a Escócia, a fim de determinar quais os tipos de polímeros foram encontrados nos organismos. “Diariamente, ingerimos microplásticos de diversas outras fontes e ainda não existem dados que apontem qual o máximo desse consumo é considerado sem efeito”, afirma Herrera. “O que existe, de fato, são estudos sobre o efeito da assimilação desse material em outros organismos marinhos. Porém, minha linha de pesquisa em Zoologia se refere a crustáceos”.

 

Empresário pede cautela antes de fazer alarme

Alex Vieira, permissionário de um dos boxes do Mercado de Peixes de Santos, é cético quanto às informações divulgadas pelo estudo. “Tenho fornecedores em Cananéia desde o início das nossas atividades, há 52 anos. E eu confio neles, pois nunca tive problemas. Tomei conhecimento do estudo da Unesp e minhas dúvidas são como essas amostras estudadas foram coletadas. O que sei é que os pescadores de lá chegam a navegar por 48 horas mar adentro, até chegar no ponto onde recolhem os crustáceos”.

Para Vieira, é preciso cuidado antes de alarmar a população. “Qualquer notícia pode influenciar a decisão de compra do consumidor. Ainda não refletiu aqui nas nossas vendas, mas pode acontecer. É preciso detalhar esse estudo. Pode ser que isso tenha ocorrido em barcos de menor porte”.