Educação

Especialistas debatem Inteligência Artificial no ensino superior

05/07/2023
Especialistas debatem Inteligência Artificial no ensino superior | Jornal da Orla

O uso da Inteligência Artificial no ensino superior foi debatido no Encontro Nacional da MetaRed TIC Brasil, realizado na Unisanta, dias 29 e 30 — primeira vez que o evento foi sediado em Santos.

O encontro reuniu especialistas para analisar as potencialidades, limites e consequências da IA no ambiente acadêmico.

“Padrões de procedimentos devem garantir o respeito à ética, ao humanismo e incentivar a criatividade e o pensamento crítico, respeitando a autoria das produções acadêmicas e de todas as áreas, sem perpetuar preconceitos e discriminações”, alertou Lúcia Teixeira,  presidente do Semesp, MetaRed TIC Brasil e da Unisanta.

O debate também teve as participações do diretor da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Francesc Pedró; da secretária da Seres/MEC, Helena Sampaio; o diretor de Avaliação da Educação Superior do Inep Mec, Ulysses Tavares Teixeira; o coordenador da MetaRed Global, Tomás Jiménez Garcia; o jornalista de O Globo e CBN, Pedro Dória.

O evento foi promovido pelo Semesp, entidade que representa as mantenedoras de ensino superior do Brasil, pela MetaRed Brasil (uma  organização que reúne universidades públicas e privadas brasileiras, criada para servir como ponto de encontro para debater e refletir sobre o uso das TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação); Universidade Santa Cecília (Unisanta),  e pela Universia (rede de cooperações universitárias).

 

Mudanças no ensino superior

Na mesa “Ensino Superior digital: qualidade e regulação”, a secretária da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres), Helena Sampaio, falou sobre a mudança de uma educação superior, que era tradicionalmente realizada de forma presencial, para uma educação ofertada predominantemente na modalidade a distância. Também levantou pontos problemáticos relativos ao uso impreciso da expressão “modalidade EaD”, a qual é muitas vezes empregada para se referir ao uso de metodologias que incorporam tecnologias da informação e comunicação.  Segundo ela, “aqui misturamos a modalidade às metodologias empregadas, ou seja, reduzimos à educação a distância ferramentas e práticas que são parte integrante também da modalidade presencial”, afirmou.

“Não há como discutir as transformações tecnológicas na educação superior brasileira sem atentarmos para as recentes transformações que são um ponto de inflexão na forma de oferta do ensino. O crescimento da modalidade a distância se acentuou a partir da instituição do novo marco regulatório, em 2017,  com o Decreto nº 9.057/2017 e a Portaria Normativa MEC nº 21/2017. A pandemia acelerou ainda mais esta tendência de fortalecimento da modalidade EaD”.

Para ela, o MetaRed é um evento fundamental sobre as profundas transformações promovidas pelas TICs, em todas as dimensões da educação: pedagógica, acadêmica e administrativa. “Este é um debate inescapável, já que não é mais possível pensar na educação dissociada da tecnologia”, disse.

 

Ensino a distância

Com base em dados divulgados pelo Inep,  Helena Sampaio informou, em sua fala, que, em 2020,  o número de ingressantes na modalidade EaD superou o número de ingressantes nos cursos presenciais,  pela primeira vez na educação superior brasileira.  “Em 2021, o número de ingressantes na modalidade EaD chegou a 63% do total”, afirmou.

A secretária destacou também que hoje o ensino EaD é a principal modalidade do setor privado, representando 51% das matrículas privadas (são mais de 3,5 milhões de matrículas).

Faixa etária - Sobre a distribuição dos ingressantes na graduação, por faixa etária, ela apresentou gráficos que mostram que nos cursos presenciais, 62% dos ingressantes, em 2021, tinham até 24 anos, já na modalidade EaD, esse percentual era de 29,5%, com uma distribuição muito significativa de ingressantes entre de 35 a 39 anos (14%) e 40 a 49 anos (15%).

“Os estudantes dos cursos na modalidade EaD tendem a ser mais velhos do que os do ensino presencial e, consequentemente, este é um aspecto distintivo entre as modalidades. Pensar o ensino digital na educação superior supõe também levar em consideração que a incorporação da tecnologia exige o uso de metodologias adequadas para públicos distintos. Este é o papel das instituições e professores: pensar o potencial do uso das ferramentas de tecnologia de forma a contemplar as especificidades e as necessidades dos estudantes. A qualidade do ensino digital implica necessariamente ter em perspectiva qual público as instituições estão formando”, explicou.

 

Intercâmbio e cooperação

No encontro, o diretor da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), Francesc Pedró, destacou a importância do intercâmbio e da cooperação entre IES de diferentes países e apontou em sua fala elementos que guiam os valores da Unesco em relação à educação superior: o direito universal à educação com o aumento do acesso ao ensino superior por meio de políticas públicas e institucionais; a necessidade de transformação da educação superior; e a flexibilização das graduações e titulações.

Pedró disse que a Unesco está preparando um relatório sobre a transformação da educação superior. “É um documento sobre como a Unesco entende a educação superior deveria ser a partir de uma série de sugestões de transformações possíveis. O redesenho das IES é uma dessas sugestões”, apontou. “Está claro que, depois da pandemia, a experiência universitária não deve ser unicamente de aprendizagem”, afirmou ele. “É dever das IES formar cidadãos com competências e habilidades a partir de uma visão mais humanística”.