O aumento da expectativa de vida dos brasileiros aponta para um novo cenário que exige reflexões e mudanças de comportamento. Se no início do século 20 as pessoas viviam em média até os 46 anos, agora têm a perspectiva de morrerem após os 77 e, daqui a algumas décadas, haver centenários será muito mais comum do que atualmente.
A longevidade maior é resultado direto das inovações tecnológicas, sobretudo na medicina, e mudanças de comportamento —melhora na alimentação, atividade física, redução de vícios como o tabagismo. Essa nova realidade indica questões a serem solucionadas: a figura do sexagenário aposentado, fazendo a contagem regressiva para o fim da vida, tende a ser cada vez mais rara.
Com mais vigor, os chamados “idosos” terão plena capacidade de se inserir no mercado de trabalho, com a vantagem de possuírem mais experiência de vida do que os profissionais mais jovens. Assim, o desafio é promover a inserção dos mais velhos com as novas tecnologias e fazer com que pessoas de diferentes gerações convivam em harmonia.
Convivência entre gerações
“Hoje no planeta temos seis gerações diferentes e poderemos ter até sete, porque o número de pessoas centenárias está aumentando. No Brasil, há mais de 30 mil pessoas com mais de 100 anos. Então, quanto melhor a convivência, essa integração geracional, termos mais produtividade, inovação e criatividade, em todos os aspectos da vida”, explica Luciana Corrêa, que é especialista em longevidade.
Ela alerta para as consequências negativas do preconceito com pessoas mais velhas. “Ser etarista é um contrassenso. É um caso típico da autossabotagem, porque daqui a alguns anos quem pratica o etarismo vai estar no lugar de quem é vítima dele hoje”.
Consciência do envelhecimento
Especialista em gestão em saúde, Paula Covas afirma que é fundamental a pessoa ter consciência do processo de envelhecimento. “Embora se tenha algumas limitações físicas, é a idade em que se adquire um equilíbrio na vida entre o Ser, o Ter e o Saber. Idade avançada não significa incapacidade cognitiva, afetiva ou social, muito pelo contrário. Tudo depende de como fizemos esta construção. Ser é como estou, meu autoconhecimento, como equilibrei meus diversos papéis – de mãe, filha, profissional. O Ter é como eu fiz esta conexão com o dinheiro, que deu sustentabilidade material à vida. E o Saber, a capacidade se ser um Ser Desejante, a velhice está muito associada à falta de desejos, ambições positivas. Viajar, fazer alguma coisa nova, aprender algo. Então, é fundamental alimentar esse desejo, o interesse e a curiosidade pelas coisas”, explica.
Luciana Corrêa acrescenta que a idade não é um fator limitante. “Antigamente se pensava que havia idade para estudar, trabalhar e se aposentar; para ser mãe e ser avó. Hoje, não! Toda idade é ideal para começar a fazer alguma coisa diferente, iniciar uma faculdade, mudar de carreira, fazer qualquer outra coisa nova”, argumenta.
Paula Covas alerta para o fato de que a longevidade pode ser prejudicial se o idoso não for ativo e não tiver capacidade de interagir com pessoas de outras gerações. “O que uma pessoa com 60 anos vai fazer pelos próximos 20 anos? Se não investir no seu conhecimento, vai ficar isolada, o que pode levar a quadros depressivos”.
Conexões
Com o objetivo de auxiliar neste processo, foi criada a Rede Conecta Gerações. A iniciativa busca oferecer consultoria, com a realização de palestras, workshops e vivências, entre outras atividades, para ajudar a aumentar a produtividade e sustentabilidade de empresas e entidades. Além de Paula Covas e Luciana Corrêa, o projeto também conta com a participação de Denise Covas, que é especialista em marketing, eventos e economia criativa.