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De quanta terra precisa um homem, clássico conto de Tolstói

12/01/2022
De quanta terra precisa um homem, clássico conto de Tolstói | Jornal da Orla

Há luzes que não se apagam. Luzes que fulguram pelas camadas do tempo e continuam irradiando significados, pensamentos, inquietações. Permanecem acesas e em forte sintonia com a espécie humana.  De quanta terra precisa um homem, um clássico conto de 1886 do russo Tolstói, desembarca no século XXI carregado de releituras, soando atualíssimo e produzindo reflexões importantes.

O enredo, simples e ágil, é repleto de figuras de linguagem e significados escondidos. O camponês Pahóm, ao ouvir uma conversa entre sua mulher e a irmã sobre as vantagens da vida urbana, tem sua ambição despertada: conclui que só viverá bem se possuir muita terra. Em pensamento, segreda para si que não temerá nem mesmo o diabo se conseguir muitas posses. Mal sabe ele que o diabo o escutou e aceitou o desafio.

Pahóm inicia sua jornada para amealhar riquezas. Inicialmente bem sucedido, não se contenta e deseja mais. Ao longo do caminho o diabo prepara armadilhas, mas também oportunidades de redenção. Tolstói entrega um desfecho memorável, imputando a Pahóm os palmos de terra que cabem a um homem como ele.

Motivos para ler:

1- Lev Tolstói é uma força literária. Basta lembrar que escreveu dois dos mais importantes romances da humanidade: Anna Karenina e Guerra e paz. Em crise espiritual, refugiou-se no campo e adotou uma vida simples, doando suas posses e renunciando aos direitos autorais. As fotos dessa sua excêntrica fase de vida (uma delas ilustra esta coluna) ficaram famosas e compuseram a aura mística do escritor;

2- Junto com Dostoiévski, Gogol e Turgueniev, Tolstói integrou a era dourada da literatura russa que, posteriormente introduzida no Ocidente, ganhou ares universais e recebeu o devido grau de excelência no mundo todo;

3- O conto é uma metáfora da vida: o desejo de atingir um sucesso que nunca basta. É assim a vida como naturalmente a conhecemos. Somos talhados desde pequenos para isso. Acumular riqueza é o que mais interessa, desimportando o desamparo do outro, o meio ambiente ou qualquer outro fator alheio. Teríamos falhado como civilização?

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