Significados do Judaísmo

Da Yeshivá para a Moda Mundial – Ralph Lauren

07/12/2022
Da Yeshivá para a Moda Mundial – Ralph Lauren | Jornal da Orla

Quando você pensa em Ralph Lauren, camisas pólo em um campo de golfe de podem vir à mente. O designer é conhecido por criar um estilo WASP (branco, anglo-saxão e protestante) icônico, o que torna ainda mais surpreendente saber da forte conexão de Lauren com a comunidade judaica.

O judaísmo de Lauren não é algo sobre o qual se fala com frequência. Embora um novo documentário chamado Very Ralph, que foi lançado na HBO, ilumine as nuances da vida de Lauren, incluindo sua identidade judaica e o papel que desempenhou em sua trajetória como designer de moda.

Ralph Rueben Lifshitz nasceu no Bronx em 14 de Outubro de 1939, em uma família de imigrantes judeus Ashkenazim da Bielorrússia, que enviaram seus quatro filhos para a escola judaica. Seu pai, Frank Lifshitz, era um pintor de paredes que desejava ser um artista e às vezes usava o nome de Frank Lauren em pinturas na esperança de conquistar um mercado mais amplo. Sua mãe, Frieda Lifshitz.

Crescendo no Bronx, o designer frequentou uma yeshiva. Seguindo os passos de seu irmão mais velho, Jerry, Lauren decidiu mudar seu sobrenome aos 16 anos de Lipschitz para Lauren porque estava “cansado de erros de pronúncia engraçados”. Seu irmão Jerry explica que, apesar de frequentarem uma escola judaica, ainda eram ridicularizados pelo sobrenome, mas não tomaram a decisão como forma de apagar suas origens. Naquela época, era comum que os judeus que emigravam para a América mudassem seus sobrenomes tanto por razões funcionais quanto por questões de segurança. Afinal, o antissemitismo ainda era comum por lá (e sejamos realistas, ainda é hoje), embora não tão grave quanto as circunstâncias em toda a Europa na época.

Após seu tempo de serviço no exército dos EUA, Ralph Lauren trabalhou para um fabricante de gravatas como assistente de vendas, aos 20 anos.

Trabalhando com um alfaiate para criar ternos personalizados ao seu gosto, Lauren finalmente levou seus próprios designs de gravata a um comprador na Bloomingdales, que era então a loja onde todas as novas marcas legais e as últimas modas eram lançadas. Mas, quando solicitado a tornar seus designs mais restritos e substituir sua marca pela marca da loja, Lauren recusou e foi embora, decidido a criar seu próprio caminho. “Esta é a marca e este é o nome”, disse Lauren.

Incentivado por seu pai, que apreciava seu senso de cor e textura, Ralph Lauren foi a primeira estrela do design da era pós-guerra, o pioneiro que primeiro entendeu o poder da marca e a fome global de assimilação.

A terra da fantasia WASP de Ralph Lauren também foi uma invenção judaica. A ironia é que ele projetou artigos para um mundo em que os judeus do início do século 20 só poderiam sonhar em participar – os clubes aos quais não podiam entrar, os subúrbios chiques em que antes não podiam viver, as universidades que não podiam frequentar.

Lauren acabou não apenas lançando sua própria empresa com o apoio da Bloomingdales, mas veio a ser o primeiro designer a ter sua própria loja dentro da loja de departamentos, um conceito que é comum hoje. “Eu sabia manter as relações, mas não parei por aí. Eu apenas continuei”, diz Lauren. Ele deu início a uma nova era de roupas masculinas, mais tarde invadindo o design de roupas femininas e construindo um império próspero que é sinônimo de um estilo de vida ambicioso. Um estilo que imediatamente criou produtos característicos considerados clássicos, incluindo colchas, bandanas, jaquetas de couro e suéteres de tricô.

Como designer, a história de Lauren é inspiradora por si só, mas também se conecta às histórias de muitos outros judeus criativos que lutaram muito para abrir seu próprio caminho no século XX. “As pessoas perguntam como um garoto judeu do Bronx pode usar roupas de mauricinho? Tem a ver com classe e roupas? Lauren disse uma vez. “Tem a ver com sonhos.”

As primeiras fragrâncias Ralph Lauren, produzidas pela Warner-Lauren, Ltd. foram lançadas na Bloomingdale’s em março de 1978. A Lauren, uma fragrância feminina, em 12 de março e a Polo, colônia masculina, em 26 de março. O designer lançou as duas fragrâncias – uma para homens e outra para mulheres – simultaneamente. A empresa entrou no mercado europeu e tornou-se internacional em 1981 com a abertura da primeira loja independente de designer americano na New Bond Street no West End de Londres, Inglaterra.

O sucesso de Ralph foi um modelo para uma geração de designers judeus, que colocaram o estilo americano no mapa da moda nos anos após a Segunda Guerra Mundial. Libertados do bloqueio do estilo de Paris, fortalecidos por uma geração de consumidores baby boom, Anne Klein, Judith Leiber, Ralph Lauren, Calvin Klein, Diane von Furstenberg, Donna Karan, Kenneth Cole e Michael Kors entraram em cena nas décadas de 1960 e 1970 , refazendo a moda à imagem de seu tempo. Depois deles veio uma nova geração, Marc Jacobs, Isaac Mizrahi, Zac Posen, que nas décadas de 1990 e 2000 ajudaram a democratizar o luxo, quase acabando com o ramo da alta costura.

Numa entrevista, Oprah Winfrey perguntou a Ralph por que ele mudou seu nome.

Lauren respondeu: “Meu nome de batismo tem a palavra shit, que significa merda em inglês. Quando eu era criança, as outras crianças riam muito de mim. Era um nome difícil. Por isso resolvi mudar. Então as pessoas disseram: “Você mudou seu nome porque não quer ser judeu?” Eu disse: “Absolutamente não. Não é disso que se trata.” Também havia pessoas que pensavam que, por ser judeu, eu não tinha o direito de criar essas roupas de mauricinho. Harvard, Yale, Princeton, e me questionavam: “Por que você gosta desse tipo de coisa?”

Eu apenas pensei: “Vou escolher um sobrenome legal” – não estava particularmente conectado a nada nem a ninguém. Eu tinha 16 anos e levei anos para me tornar designer. Não tinha nada a ver com judaísmo, não tinha nada a ver com não ter orgulho de quem eu sou. Tinha a ver com não querer ser prejudicado sem motivo em um mundo que zomba das coisas.”

Ralph ainda complementa: “Se eu tivesse que fazer tudo de novo, eu mudaria meu nome hoje? Eu não tenho tanta certeza.”

Em 12 de junho de 1997, a empresa de Lauren tornou-se uma empresa de capital aberto na Bolsa de Valores de Nova York. Sua marca é conhecida em todas as partes do mundo.

Ele também é conhecido por sua vasta atuação na área de filantropia, desde um instituto aumentar a conscientização pública e os fundos para o câncer de mama internacionalmente, até uma Fundação para ajudar durante as buscas do atentado de 11 de Setembro.

Em uma exposição em Tel Aviv, no Beit Hatfutsot – O Museu do Povo Judeu, O estilista disse: ‘As pessoas perguntam como um garoto judeu do Bronx pode usar roupas de mauricinho? Isso tem a ver com classe e dinheiro?’ Tem a ver com sonhos. Eu não desenho roupas, eu desenho sonhos.”

Ralph Lauren, até hoje, guarda suas raízes e observa todas as festas do calendário judaico.

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