1866, Petersburgo, Rússia. Ali, às margens do Mar Báltico, um instável escritor que acumulava trabalhos de sucesso com outros negativamente criticados entregou ao mundo Crime e Castigo. Uma bomba que explodiu e continua emitindo estilhaços até hoje. O romance ganhou tons universais, incorporando-se ao panteão mais elevado do patrimônio literário da humanidade.
O livro narra a aflição psicológica de um promissor jovem estudante que, motivado por uma excêntrica teoria, assassina violentamente uma velha agiota. Ferido em seu orgulho e esmagado pela pobreza que o obriga a interromper seus estudos, ele desenvolve angustiantes pensamentos da seguinte ordem: indivíduos nocivos e inúteis devem ser eliminados da sociedade. Seu crime, assim, restaria jurídica e moralmente justificado e sequer haveria espaço para arrependimento.
Magistralmente conduzido, o ponto alto é a tortura psicológica que o protagonista impõe a si mesmo. O dilema paranoico entre confessar o crime ou ocultá-lo a todo custo consome o ex-estudante. E consome também o leitor.
Não se define o que é Crime e Castigo. Lê-se e sente-se o pulsar da vertiginosa perturbação das tintas de um dos maiores escritores de todos os tempos. Uma experiência única.
Motivos para ler:
1- Fiódor Dostoiévski atingiu uma projeção para poucos: não só encabeça o que a Literatura tem de melhor, mas sua obra rende fortes influências nos domínios da Filosofia e da Psicologia. O reconhecimento de sua obra é imenso. Não à toa, o mundo inteiro lhe presta seguidas homenagens;
2- Quem escreve costuma ser pessoa de seu tempo, de forma que sua literatura refletirá aspectos do mundo que o cerca. Na época de Crime e Castigo, muito se discutia o tema da punição jurídica aos criminosos. O próprio Dostoiévski experimentou a prisão siberiana e só não foi fuzilado porque, segundos antes da execução, a sentença de morte foi comutada em trabalhos forçados. Ler é conhecer outras culturas, outros tempos, outros modos de ser e fazer, outros mundos;
3- O discurso dostoievskiano nunca é leve. Uma boa dica para atravessar um livro denso como este é combinar a leitura com um grupo ou com um amigo. Haverá aí mais estímulo para prosseguir na árdua leitura e o proveito, com a troca de impressões, será ainda mais rico.
…
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.