A voz da consciência

A conquista da cidadania da pessoa com deficiência?

02/08/2024
A conquista da cidadania da pessoa com deficiência? | Jornal da Orla

Pela última vez na minha vida, vou falar de política, assim espero. Se as nossas autoridades não fizerem bobagem, principalmente contra a pessoa com deficiência, as pessoas têm uma imagem de mim muito diferente daquela que eu tento passar. Elas acham que, por ser uma pessoa com deficiência, eu quero receber “sim” para tudo, como se eu fosse um “bonitinho” ou uma “fofurinha”. Mas eu sou um ser humano normal como qualquer outro, e também recebo “não”.

Por mais que eu não queira saber, e muito menos procure saber dos fatos, eles vêm até a mim. Quero deixar claro que os fatos que eu preciso saber, de uma forma ou de outra, chegam até mim. Eu não me alimento de fake news. Por exemplo, quando o presidente Lula tentou fazer uma conexão infeliz entre o ataque às crianças de Blumenau, por um homem que invadiu e matou aquelas crianças de forma covarde, diga-se de passagem, e a questão do autismo, chegou até mim o vídeo do apresentador Marcos Mion comentando as falas do presidente, citando o aspecto autista e fazendo uma ligação com a questão dos jogos com conteúdo violento de videogame.

Um certo dia, por curiosidade para ver o alcance desta Live, eu fui assistir e por uma questão de coincidência ou a obra do destino ou sei lá o quê? Foi justamente no dia em que houve essa polêmica com as pessoas de mobilidade reduzida, como eu. E assim, meu velho amigo e minha velha amiga, eu não me alimento por fake news, eu vou repetir aquele fato ao qual eu preciso saber, eu vou acabar sabendo, de uma forma ou de outra, por mais que eu não queira saber.

Você quer um outro exemplo? A polêmica do momento agora é a lei de cotas no mercado de trabalho para pessoa com deficiência. Na verdade, só muda o personagem porque agora a proposta vem do senhor ministro do trabalho Luiz Marinho. O que ele propôs? Que ao invés da contratação de funcionários com deficiência por parte das empresas, que seja revertido para um fundo de habilitação ou reabilitação de desempregados com deficiência. Só que essa proposta não é nova, porque o primeiro a fazer foi o ex-ministro da economia, senhor Paulo Guedes. Mas, como eu disse, eu, no momento da consciência coluna que eu faço no boletim de notícias da TV Reação, eu disse, e repito aqui: nem o pessoal da direita, muito menos o pessoal da esquerda, está interessado na inclusão social da pessoa com deficiência, seja qual condição, fora natural ou adquirida. Simplesmente por um fato, eles querem nosso voto para ser politicamente correto. O fato central dessa questão é: se você considerar o exercício da política como o espelho da sociedade, o que ela está fazendo é discutir nossa presença dentro da sociedade, o que me faz lembrar é o seguinte: uma campanha do Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Curitiba, capital do Paraná, chamada “Movimento pela Reforma dos Direitos?”. Onde você coloca um outdoor em alguns locais da capital paranaense com esse dizer: “Movimento pela Reforma dos Direitos?”.

E eu, na condição de conselheiro do Condefi de Santos na época, solicitei à mesa diretora formalização de um requerimento protocolado no Ministério Público Federal pedindo explicação ao Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência de Curitiba e à sua então presidente, Mirella Brodowski, sobre quais os direitos sociais da pessoa com deficiência que correm risco? Não obtive o resultado sobre o que deu o requerimento. Mas hoje, eu sei que, por exemplo, o projeto de lei 6159/2019 que trata da flexibilização no mercado de trabalho para pessoa com deficiência, o que que diz esse projeto? Diz o seguinte: abre a possibilidade de troca da contratação de pessoas com deficiência no mercado formal de trabalho pela captação de recursos financeiros para reabilitação de pessoas com deficiência adquirida, às vezes na própria empresa.

A lógica social presente no Brasil é a seguinte: não quero criticar, mas acredito que devemos falar as verdades. Quanto menor a dependência física, é mais fácil a aceitação social por parte das pessoas sem deficiência. No Consciência Inclusiva da semana passada, eu recebi e conversei com o Carlos Clemente, diretor do Espaço da Cidadania de Osasco em São Paulo, elemento com uma informação que confesso que me chamou atenção: das pessoas com deficiência natural, apenas 1% de nós temos um curso universitário completo. Digo “nós” porque me incluo. No meu caso, eu cheguei a concluir o ensino médio completo, e eu, aos 37 anos, ainda tenho o desejo de fazer uma faculdade para mostrar à minha mãe que todo o esforço do trabalho que teve na minha educação não foi em vão.

Mas para concluir esta coluna que escrevo, deixo vocês com uma pergunta, que é a seguinte: qual é o real objetivo da inclusão social, senão o acesso ao mercado de trabalho e assim terminar o processo de conquista da cidadania? Infelizmente, eu vou continuar falando de política porque elas, as autoridades, gostam do modo Bruninho revoltado, mas a vida é assim: enquanto for permitido a mim manifestar a minha opinião aqui, estarei aqui para ir contra a hipocrisia.

São exatamente 33 anos da lei de cotas no mercado de trabalho, para o público pcd certo?  Eu acredito que não temos nada para comemorar porque não existe uma crença, de que  o público pcd tenha direito a conquistar   a sua cidadania chegando ao mercado de trabalho, eu falo isso com tristeza se fala em vaga pcd um motivo bem simples que é o seguinte , os benefícios fiscais econômicos que as empresas recebem por parte do governo federal, para serem politicamente corretas, não é porque acredita que a pessoa com deficiência tenha direito a sua cidadania, infelizmente essa é a verdade dos fatos, são poucas as pessoas e empresas que tenham realmente uma política interna de inclusão econômica e social que acreditam realmente na nossa cidadania quem sabe um dia essa realidade mude? Eu não estou aqui sendo pessimista antes que alguém diga eu estou sim fazendo uma análise fria dos fatos.

 

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