Cena

‘Cidade Clandestina’: um convite para se perder pelas ruas de Santos

02/05/2025 Isabela Marangoni
Gaspar Lourenço/Divulgação

E se cada rua fosse uma pista e cada esquina, uma nova possibilidade de descoberta? Essa é a proposta de Cidade Clandestina, novo espetáculo do Em Bando Coletivo, que estreia neste domingo (4), às 10h30, com ponto de partida na Pinacoteca Benedicto Calixto (Av. Bartolomeu de Gusmão, 15 – Boqueirão). Em formato de audiotour — ou caminhada sonora — a experiência convida o público a explorar a cidade, guiado por fones de ouvido.

Idealizado pelo dramaturgo Marcus Di Bello, o projeto marca a segunda incursão do grupo nessa linguagem híbrida entre teatro e passeio urbano. “Diferente de uma narrativa linear, aqui não contamos uma história. A proposta é transformar o público em jogador, alguém que participa ativamente da cidade”, explica. “Essa cidade é clandestina, oculta — ela revela detalhes que normalmente passam despercebidos no dia a dia”.

Inspirado em práticas como a deriva — conceito que propõe o deslocamento sem rota fixa ou finalidade determinada – o espetáculo rompe a lógica tradicional do uso urbano, com uma proposta sensorial e reflexiva. Ao percorrer trechos do Centro Histórico e da Orla, o público é convidado a olhar para a arquitetura e os caminhos com novos olhos. “A ideia é transformar o hábito de se locomover em uma brincadeira, como se a cidade fosse um grande tabuleiro”, diz Marcus.

A dramaturgia, descrita por Marcus como “acidental”, se constrói de forma subjetiva. “Brincamos que é como um cinema a céu aberto. Temos locações, trilha e direção sonora, mas quem faz a fotografia é o espectador. Cada um constrói sua própria narrativa a partir do que vê e sente”.

Além de desacelerar o ritmo cotidiano, o espetáculo também propõe uma escuta ativa — tanto da cidade quanto de si mesmo. “É sobre perceber os próprios pensamentos, refletir sobre o uso da cidade, observar as arquiteturas, os fluxos, os usuários da cidade”, diz.

E o percurso não é fixo. Há momentos de escolha e até sorteio de direções. “Sempre temos um ponto de partida, mas não sabemos o ponto final. O grupo vai fazendo escolhas ao acaso. A proposta é se perder, mesmo que em caminhos conhecidos”.

A trilha sonora é um elemento-chave da imersão, combinando instruções, vozes dos integrantes do coletivo e músicas que guiam os procedimentos do jogo. “O fone de ouvido nos coloca num estado de escuta e atenção. Ele é o fio condutor da experiência”, completa.

O processo de criação foi colaborativo. A dramaturgia é assinada por Marcus Di Bello, com concepção conjunta com Jamili Limma e João Lírio. O elenco, que também empresta suas vozes às gravações, participou ativamente em estúdio. “O resultado tem a cara de cada um. É um trabalho coletivo em essência”.

Após a estreia, o espetáculo terá sessões exclusivas na segunda-feira (5) para alunos da Escola de Artes Cênicas ‘Wilson Geraldo’, nas ruas do Centro Histórico de Santos. Em seguida, passa a integrar o repertório do coletivo para futuras apresentações. ‘Cidade Clandestina’ é realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, por meio do Governo Federal, Ministério da Cultura e Prefeitura de Santos, via Secretaria de Cultura.

Para participar do audiotour neste domingo (4), não é necessário se inscrever. Basta comparecer na Pinacoteca Benedicto Calixto, no horário combinado, com fones de ouvido e celular carregado — o áudio será disponibilizado na hora e todos partirão juntos.

E o projeto não pretende parar por aí. “Esse formato pode ser levado para qualquer cidade. Basta uma praça, uma rua e o desejo de escutar. A rua é soberana. Ela é a protagonista”, conclui Marcus. Para mais informações, acesse a página do coletivo no Instagram @embandocoletivo.