A alegria em falar daquilo que ama não pode ser escondida. Débora Gozzoli e Marcos Canduta – o Choro de Bolso – expressam, com brilho nos olhos, a felicidade de ser chorão.
Vinda de uma família de músicos, era tão natural quanto andar para frente que Débora fosse seguir a carreira musical. O início na flauta doce permitiu que ela se encantasse pela elegância e sonoridade da flauta transversal ao assistir na TV Cultura um especial de choro. “Eu disse: mãe, quero aprender esse instrumento. E ela pensou: Onde vou arrumar um professor de flauta em Santos? ”, comenta.
Então iniciou sua caminhada até o choro pela música erudita, tendo aulas com um flautista da Orquestra de Santos, depois mudou para um professor que tinha uma veia da música popular e, segundo a musicista, “Do popular para o choro foi um tropeço”.
Um apaixonado pela música, Marcos Canduta, tinha a ambição de tocar guitarra. O fascínio por Led Zeppelin fez com que o músico se dedicasse ao ponto de lançar o primeiro trabalho profissional aos 14 anos. Entretanto, a revolução ocorreu na sua mente a partir do momento que conheceu o trabalho de Milton Nascimento, O Milagre dos Peixes. “Aquilo fundiu minha cabeça. Eu pensava: Gente o que é isso? ”, relembra.
Passou a estudar violão erudito ao mesmo tempo que estudava guitarra jazz e, coincidentemente, tropeçou no choro por influência da Débora. “E choro é igual cachaça, depois que prova a primeira vez você quer mais”, diz.
“Para quem toca, o choro, é divertido demais. É uma música viva. É uma música que te dá prazer de tocar porque é deliciosa”, afirma Débora, “E tem a questão da complexidade, do desafio, para tocar choro você tem que estudar. Um velho sábio dizia: o choro é muita nota para pouca nota (dinheiro) ”, brinca Marcos.
Anos mais tarde, Marcos e Débora formaram o duo Choro de Bolso. O nome provém de duas ótimas inspirações, o álbum “Pixinguinha de Bolso”, do duo Henrique Cazes e Marcello Gonçalves, e dos livros de bolso que ficavam na prateleira da livraria que é responsável pelo surgimento do projeto, a Realejo.
“Nós tocamos na inauguração da Realejo no Gonzaga. Na época eu chamei a Débora para dar uma canja na inauguração junto comigo e com o Cancelo. E dali veio o convite para nós tocarmos, mas ainda não tinha um nome”, comenta, o músico, “Um dia eu estava lá na Realejo e o Zé me cobrou um nome, aí eu vi aquele monte de livro de bolso em uma das estantes e lembrei do álbum do Cazes, então veio o nome”, complementa.
A dupla também viajou diversas cidades não só tocando, mas também contando a história do gênero em uma parceria com o SESI. Trazendo à tona a importância de nomes como Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga e Joaquim Callado. “O choro é nosso primeiro gênero, anterior ao samba. Tem uma importância enorme e poucas pessoas se dão conta disso”, afirma Débora, “Flor Amorosa é considerado o primeiro choro, basicamente é uma polca, mas o choro é originário da polca”, complementa.
O duo já conta com dois álbuns. O mais recente, Entidade, conta com 15 choros autorais, com uma pegada moderna, mas sem esquecer as origens do gênero. O outro trabalho ‘Os Choros, Sambas e Canções que a gente mesmo faz’, traz 14 sons cantados em parceira com Julinho Bittencourt.
As apresentações na Realejo Livros (Avenida Marechal Deodoro, nº2, Gonzaga) acontecem toda sexta-feira às 18:30.
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