Era uma vez uma cidade muito gelada, como gelada também era a relação entre os seus habitantes.
Viviam isolados, cada qual em sua própria casa.
Um dia, um mendigo chegou à cidade.
Sofrendo com o frio e com a fome, bateu em várias portas.
Mal as portas se abriam, ele era expulso com gritos e xingamentos.
Quando se levantou para seguir seu caminho, em busca de uma cidade mais acolhedora, percebeu que havia uma porta entreaberta. Era a porta do templo que se abria e fechava com o vento.
Foi entrando devagar.
Encontrou o guardião do templo e seu ajudante, ambos congelados naquela cidade cinzenta e fria.
Cumprimentou-os sem nenhuma resposta.
Então, ele falou bem alto:
–Que pena que não poderei fazer aquela sopa quentinha, para espantar o frio e matar a fome.
–Sopa? -falou interessado o velho guardião.
–Sim, eu sei fazer uma deliciosa sopa de botão de osso. São necessários 6 botões, mas eu só tenho 5.
–Eu não tenho nenhum botão de osso -Foi a resposta.
–Mas o alfaiate poderá nos ajudar -interveio o ajudante, animado.
A vontade de tomar uma sopa quente fez com que buscassem o alfaiate.
O alfaiate providenciou o botão, com uma condição: iria junto para ver o milagre da tal sopa.
O mendigo pediu também colher de pau, panela grande, faca, e outras coisas.
E foi assim que o guardião do templo, seu ajudante e o alfaiate, saíram pelas ruas, batendo de porta em porta para pedir os utensílios para se fazer a sopa de botão de osso.
Uma a uma, as pessoas foram se juntando, na praça, até que tudo havia sido providenciado.
O mendigo provou e disse que a sopa estava boa mas, poderia ficar ainda melhor se alguém trouxesse um pouco de cenoura, repolho, sal, pimenta, alho, e outros ingredientes.
As pessoas foram se achegando e trazendo algo mais para tornar a sopa mais substanciosa e saborosa.
A sopa ficou pronta. Todos se serviram. Mais de uma vez.
Surgiu até alguém para tocar um acordeão e o povo dançou a noite toda.
No dia seguinte, não faltaram portas se abrindo para o mendigo se abrigar do frio.
Como ele tinha que seguir o seu caminho, despediu-se e se foi, não sem antes deixar os botões milagrosos para que pudessem continuar fazendo a sopa.
[com base em texto de Aubrey Davis e na Red. do Momento Espírita]
Muito tempo se passou e os botões se perderam.
Mas todos já haviam descoberto que o verdadeiro milagre não estava nos botões, e sim na solidariedade que agora reinava entre eles.
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