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A(s) mulher(es) que eu amo

20/12/2023
A(s) mulher(es) que eu amo | Jornal da Orla

O labirinto de Eros Grau

Fino cultor do Direito Público, Eros Grau é uma das figuras mais proeminentes do pensamento jurídico brasileiro. Sua notável postura intelectual o elevou a cidadão do mundo: foi professor visitante em prestigiadas universidades estrangeiras e recebeu diversos títulos Docteur Honoris Causa no Brasil e no exterior. Sua elevada erudição, que nunca se circunscreveu tão somente ao Direito, também se manifesta na literatura.

A(s) mulher(res) que eu amo elabora, com desenvoltura, um sensual labirinto de pequenos contos que ora parecem se cruzar e ora viajam em paralelo, sempre impondo ao leitor o desafio de distinguir a realidade da fantasia, a memória do devaneio. A atmosfera onírica, muito bem conduzida pelo autor, impõe dúvidas fundamentais sobre as personagens que serão – ou não – desvendadas ao longo da leitura.

“Em toda ficção há nesgas de verdade”, diz o livro a certa altura. Eros talvez tenha falado de si próprio, ou talvez simplesmente tenha tergiversado com o doloso intuito de embaralhar a mente de quem o lê. Nunca se sabe.

 

Motivos para ler:

1- Eros Roberto Grau, santa-mariense de 83 anos, edificou uma das mais brilhantes carreiras jurídicas deste país. Livre docente pela USP (onde lecionou até se aposentar em 2009), exerceu com profunda devoção a função de ministro do STF (2004-2010), contribuindo diretamente para a guarda e concretização da Constituição. Àqueles que, como nós, se dedicam às letras jurídicas como ofício, indicamos fortemente a leitura de seu livro Por que tenho medo dos juízes;

2- A erudição – qualidade daquele que atinge níveis elevadíssimos de cultura – é possivelmente a fronteira última que uma pessoa pode alcançar em vida. É para poucos porque demanda uma disposição perene e uma inteligência singular. Entrar em contato com pessoas eruditas é um privilégio;

3- E, como todo bom erudito, Eros ostenta um humor muito peculiar. Certa vez, disse: “A mídia me destruiu afirmando que um juiz do Supremo escreveu um livro erótico. Se meu nome fosse Hermes, diriam hermético…”

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