Bom Remédio

A volta de uma ameaça do século passado

28/05/2014
A volta de uma ameaça do século passado | Jornal da Orla
Alguns temas não podem deixar de ser recorrentes. Um deles é a existência de bactérias resistentes aos antibióticos conhecidos. O assunto é tão sério que as agências oficiais dos EUA e da União Europeia constituíram uma força tarefa, em 2011, para discutir o assunto e propor soluções. Essas agências alertam que, se nada for feito, daqui a duas gerações, as pessoas voltarão a morrer por infecções pós-cirúrgicas ou devido a pequenos acidentes, do mesmo modo como acontecia antes da descoberta dos antibióticos, nos anos de 1920, e sua larga prática de utilização nos anos de 1940.
Mutações
A resistência bacteriana é a capacidade da bactéria promover mutações e não se tornar sensível aos antibióticos. Diferentemente dos antissépticos, que agem quimicamente sobre os microrganismos não gerando resistências, os antibióticos interferem no seu metabolismo. Desse modo, havendo mutação, o microrganismo modifica internamente a sua forma de processar as atividades celulares, mudando a rota para atingir o mesmo objetivo, como se multiplicar, por exemplo, o que havia sido impedido pelo antibiótico. Essa mutação pode acontecer espontaneamente ou provocado pelo uso contínuo e inadequado dos antibióticos. A diferença está que na natureza a taxa é muito mais lenta.
Uso racional,
prevenção e pesquisa
A força tarefa europeia-americana propõe três linhas de ações imediatas. A primeira delas seria o uso racional dos antibióticos, tanto pelos médicos quanto pelos veterinários. A segunda consiste em atuar preventivamente, de forma educativa, junto aos hospitais e aos usuários em si. E a terceira, seria aumentar os investimentos para a busca de novos antibióticos. As autoridades afirmam que se as duas primeiras ações não provocarem resultados, os esforços realizados na busca de novos medicamentos serão neutralizados com o surgimento de mais resistências. Nos dias de hoje, há um número menor de novos antibióticos sendo lançados por falta de alternativas.
Mortes e prejuízos
O trabalho conjunto da Europa e dos EUA iniciou-se com a proposição de 17 recomendações. Esse grupo apresenta números superlativos. Acredita-se que, as infeções por bactérias resistentes promovam a perda, ao ano, de mais de 1,5 bilhão de euros na Europa e US$ 20 bilhões no EUA. Essas infecções provocariam a morte de 25 mil pessoas em 29 países da Europa e 23 mil nos EUA. Não há dados disponíveis sobre o Brasil.
A situação é muito grave porque já circulam pelo mundo bactérias resistentes aos antibióticos mais potentes de uso hospitalar exclusivo. A disseminação dessas bactérias está acontecendo rapidamente, provocando muitas mortes por falta de opção de tratamento.