Fronteiras da Ciência

A Rachadura

09/02/2022
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Hábitos infelizes, considerados atitudes comuns na sociedade, podem corromper nossas mentes.

A parede era robusta, aparentemente inabalável.
Suportava ventos fortes e chuva intensa há anos.
Fazia parte de uma grande fortaleza, que ninguém arriscava atacar porque parecia ser inconquistável.
No entanto, na sua face sul, onde o sol raramente tocava, havia uma irregularidade quase imperceptível.
Era o resultado da pressa em sua execução ou, quem sabe, do descuido de um dos executores da obra.
Agora, porém, isso pouco importava. Afinal, aquela muralha fora erguida há muito tempo e os responsáveis por ela nem mais andavam sobre a Terra.
No entanto, aquela imperfeição foi servindo de depósito natural da água da chuva e dos detritos trazidos pelo vento.
A água foi se infiltrando no muro e trilhando um caminho próprio, em busca de uma saída entre as rochas reunidas por espessa argamassa.
Com o passar do tempo, uma fissura surgiu onde antes havia apenas uma depressão quase invisível.
Alimentada pelas águas das chuvas e pelo limo, que invadira a parede úmida e fria, foi se expandindo, até tornar-se uma assustadora fenda.
A rachadura corrompeu a parte inferior do muro que, atingido pela umidade, deteriorava-se a olhos vistos.
Em uma noite fria, quando o temporal ruidoso e inclemente avançava sobre a praia próxima, a ventania atingiu a muralha com violência.
E ela, que suportara ventos ainda mais fortes, dessa vez não resistiu.
Corrompida pela água, que agredira a sua base e parte de seus materiais, a grande parede tombou, pesadamente, como se estivesse cansada de resistir.
Uma simples fissura, decorrente de uma imperfeição aparentemente insignificante, causou a queda do grande muro.
[com base na Redação do Momento Espírita]
Assim também são os vícios humanos.
Hábitos infelizes, considerados atitudes comuns na sociedade, podem corromper nossas mentes.
Hoje são apenas fofoquinhas a servir de passatempo aos desocupados.
Amanhã serão mentiras ardilosas a destruir lares e prejudicar vidas.
Hoje, são apenas alguns goles de bebida alcoólica para descontrair.
Amanhã, serão drogas pesadas a arruinar centros nervosos e lesionar profundamente os destinos.
Os vícios surgem como pequeninas fissuras na conduta humana.
Em um primeiro momento não despertam grandes receios e chegam, até, a ser ignorados pelos menos avisados.
No entanto, com o passar do tempo, vão se agigantando e invadindo o espaço que deveria ser da virtude.

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