Um ano depois, qual é a avaliação que você, leitora/leitor, faz dos atos de 08/01? Houve, em torno das invasões e depredações daquele dia, uma guerra de narrativas. Aliás, como acontece com tudo atualmente. Pelo menos aqui no Brasil.
Houve infiltrados? Houve cumplicidade de autoridades do governo? Jair Bolsonaro teve participação decisiva no planejamento ou se limitou a torcer pela intervenção militar?
Alguns elementos, um ano depois, estão mais claros. Vamos a eles. Um grupo de pessoas que não aceitaram o resultado das eleições tentou forçar uma intervenção militar para impedir a posse dos governantes eleitos, Lula e Alckmin. Acamparam na frente dos quartéis. Lá, a ansiedade e frustração daquelas múltiplas “72 horas” que nunca se completaram, foram se transformando em exasperação. A posse de Lula multiplica essa exasperação. Daí as invasões e as depredações, uma operação tabajara visando a criação de uma situação que forçasse a tal intervenção militar.
O governo Lula reagiu com extrema habilidade. Não decretou a Garantia da Lei e da Ordem, que daria o poder aos militares. Fez uma intervenção restrita à área de Segurança do governo do Distrito Federal, o que evitou uma crise política. Desfez as manifestações sem nenhuma violência, o que além de afastar qualquer iniciativa de reação de militares e policiais bolsonaristas, não produziu nenhum mártir. Como referência, vale lembrar que nos Estados Unidos, onde houve dois anos antes uma invasão parecida ao Capitolio, sede do Congresso, o saldo final contabilizou 6 mortes.
Vale esclarecer, como exemplos, pelo menos duas narrativas que foram completamente desmentidas durante esse ano que passou. Uma delas, a de que o invasor que depredou o relógio histórico presenteado pelo rei francês Luís XIV a Dom João VI seria um petista infiltrado. A identidade verdadeira do autor daquela cena lamentável é a do mecânico Antônio Cláudio Ferreira, reconhecido por vizinhos, preso em Uberlândia (MG). E apoiador declarado, nas redes sociais, do ex-presidente Bolsonaro. A outra história torta ainda persiste: a de que 1300 “patriotas” estariam presos e sem direito ao devido processo legal. Na verdade, há apenas 65 pessoas que permanecem presas. A prisão é preventiva, prevista na lei. E os processos correm normalmente, tanto que em dezembro um recurso da defesa pela liberdade deles foi rejeitado. Outros 8 estão presos porque já foram condenados.
Muita coisa ainda precisa ser esclarecida. Mas se você quiser entender melhor o que aconteceu naquele dia, vale a pena assistir ao documentário 8/1: A Democracia Resiste, de Júlia Duailib e Rafael Norton, que estreou neste domingo, 7/1 na emissora de TV por assinatura Globo News.