Cena

A Cor Protagonista de Mai-Britt Wolthers na Pinacoteca de Santos

29/04/2025 Isabela Marangoni
Mai-Britt Wolthers

Como convidada da 3ª edição do projeto Arte na Pinacoteca – iniciativa anual que reúne exposições, catálogos, cursos, oficinas, concertos e visitas escolares gratuitas –, a artista dinamarquesa-brasileira Mai-Britt Wolthers apresenta a exposição Mai-Britt Wolthers e a Cor Protagonista na Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto, a partir desta quarta-feira (30). A mostra reúne pinturas, esculturas, instalações e vídeo, em um conjunto que propõe uma verdadeira imersão sensorial e crítica.

Com curadoria de Carlos Zibel e Antonio Carlos Cavalcanti Filho, a exposição está organizada em núcleos temáticos que conduzem o público por camadas simbólicas e poéticas da artista. As obras ocupam quatro salas expositivas, proporcionando uma experiência envolvente entre cor, natureza, espiritualidade e existência.

UM OLHAR PLURAL SOBRE O MUNDO

Radicada no Brasil desde os anos 1990 e moradora de Santos há mais de três décadas, Mai-Britt revela que já vinha pensando em expor novamente na cidade quando foi surpreendida pelo convite da Pinacoteca. “Alguns trabalhos eu já tinha prontos, como objetos, uma vídeo-instalação e uma escultura. Mas das pinturas, só três estavam prontas — uma foi vendida, então acabei criando oito trabalhos grandes especialmente para esta exposição”, comenta.

A COR COMO PROTAGONISTA

Mais do que linguagem visual, a cor é o eixo central da produção de Mai-Britt. Ela não apenas define atmosferas, mas também estrutura a narrativa pictórica e tensiona os espaços de composição, criando embates entre o abstrato e o figurativo. “Com certeza a minha vida entre o Brasil e a Dinamarca influencia minha arte. O artista reflete aquilo que vive. Cores, formas e experiências entram no meu trabalho quase que naturalmente”.

Dialogando com a Arte Povera – movimento artístico italiano que se caracteriza pelo uso de materiais simples, como terra, pedra, madeira e metais, e que visa refletir sobre o uso e valor do material, bem como sobre a natureza e a sociedade –, a artista propõe obras que unem matéria e memória, transformando seus trabalhos em dispositivos de pensamento. Um exemplo marcante é a instalação com cuias azuis em resina – síntese entre o cotidiano e o enigmático.

EXPERIÊNCIA EM QUATRO SALAS

Na primeira sala, intitulada Floresta, predominam os tons de verde e o vídeo-performance gravado no Rio Negro, onde a artista manipula objetos azuis em meio à paisagem amazônica. “Desde criança sou encantada pela natureza — primeiro pelas florestas do norte da Europa e depois pelas do Brasil. Isso foi se desdobrando naturalmente no meu trabalho e se reflete muito na minha pintura”, afirma.

A segunda sala, dedicada ao fogo e à transformação, apresenta obras em tons de vermelho e pink, acompanhadas por objetos escurecidos que remetem à queima das florestas. Ainda assim, a artista reforça. “Mesmo quando penso na destruição, o que me guia é sempre a composição, a busca por equilíbrio entre forma e cor.”

Na terceira sala, o núcleo Divino aborda o espiritual e o transcendental, com obras que surgiram durante a pandemia, quando Mai-Britt começou a pintar santos como forma de imaginar proteção para o mundo. “Acho que todos passamos por momentos em que precisamos rezar, acreditar em algo maior”.

A última sala, chamada Humano, é banhada em rosa, remetendo ao feminino, à fertilidade e à origem da vida. “Tem uma escultura que lembra um feto, o início da vida. Usei sementes reais pintadas de rosa e inseridas no cimento – uma forma de unir o natural ao simbólico”, explica.

Mais do que uma visita, a exposição propõe uma experiência contemplativa. “É uma chance de entrar no meu universo e ver a vida através da minha lente. Cada artista canta com seu próprio bico”, diz a artista, citando um provérbio popular que reflete sua visão autoral.

A exposição reafirma o compromisso da Pinacoteca Benedicto Calixto com a arte contemporânea e sempre honrando sua missão de democratizar o acesso à cultura por meio de experiências significativas.