Na noite de domingo, 07/07, um passageiro de um ônibus urbano, em São Paulo, matou a tiros o motorista. O motivo? O condutor, de 26 anos, se recusou a atender a um pedido dele para desembarcar fora do ponto.
O que pensar diante de uma notícia dessas?
Atitudes completamente desequilibradas, truculentas, de violência extrema desencadeada por motivos fúteis, se multiplicam. Muitas delas resultam em mortes e/ou em traumas profundos para vítimas diretas e indiretas.
Em Santos, em junho, houve o caso daquela voadora de um motorista que resultou na morte de um avô de 77 anos que atravessava a rua em companhia do neto. A fúria, neste caso, teve como estopim um toque do idoso, com a mão, no capô do carro do assassino.
Também em junho, na rodovia Castelo Branco, um motorista enraivecido por uma manobra de outro automóvel, desceu armado do carro para uma discussão e atirou 5 vezes na direção do passageiro. A tragédia só não se consumou porque o outro automóvel era blindado.
Também recente é o caso de uma criança de 4 anos que teve as mãos amarradas e a boca selada com adesivo por uma educadora numa creche de Fernando de Noronha. Uma educadora !!! Duas auxiliares presenciaram a cena como se fosse coisa normalíssima.
O desequilíbrio extrapola o campo individual. A revista The Economist apresentou na semana passada uma capa que apresenta um andador, o símbolo da presidência dos Estados Unidos e um pedido para que Joe Biden renuncie por incapacidade cognitiva à candidatura à reeleição. Aqui a violência mistura desrespeito e coação psicológica. E tem a agravante de ser decisão coletiva, de uma redação.
Para encerrar essa coletânea, a bizarrice da cena de um segurança subindo ao palco da premiação anual da Associação Paulista de Críticos de Arte para revistar – e constranger – um premiado, um ator negro, diante da plateia estarrecida.
A escalada contínua dessa deslimitação absoluta dá a ideia de que alguém abriu, neste século, uma caixa semelhante à de Pandora, a mulher da mitologia grega que libertou todos os males com os quais a humanidade ainda não convivia: doenças, guerras, mentiras, ódio…
O discurso de ódio foi libertado mesmo, e a caixa destampada talvez seja a das redes sociais. O escritor e intelectual italiano Umberto Eco previu esse fenômeno:
“As redes sociais deram o direito à palavra a legiões de imbecis que, antes, só falavam nos bares, após um copo de vinho e não causavam nenhum mal para a coletividade.”
O fenômeno é planetário. Nas eleições francesas, da semana passada, se pregou abertamente a morte de alguns dos candidatos de esquerda nominados um a um. Incentivo claro ao crime. Antes um slogan pedia “um futuro para as crianças brancas”.
Não há mais limite para a estupidez. As pessoas passaram a se orgulhar dela. A humanidade ainda não sabe como lidar com esse fenômeno das redes sociais que conjugam informação falsa e discurso de ódio.
Por enquanto não se vê nenhuma luz no fim desse túnel sombrio.
Por muito menos, no século passado, o compositor e cantor brasileiro Sílvio Brito cunhou um verso que traduz com perfeição a nossa perplexidade diante desse bombardeio de brutalidade e ignorância:
“Para o mundo que eu quero descer.”
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