O apocalipse é um argumento frequentemente utilizado por escritores e cineastas para captar a atenção do público. O assunto gera forte fascínio nas pessoas, talvez porque tangencie o imponderável: como seria se sofrêssemos uma drástica alteração nos modos de ser e viver? Eis algo novo debaixo do sol: O Silêncio, novo livro do premiado nova-iorquino Don DeLillo, introduz um apagão tecnológico que derruba aviões, apaga redes elétricas, escurece telas e colapsa sistemas.
Tratando-se de um escritor talentoso, é de se esperar criatividade sobre uma temática tão visitada. E assim é: cinco personagens sofrem os influxos da misteriosa pane geral, e serão seus nebulosos diálogos e pensamentos que darão o charme especial a este romance. Para se ler num dia, o livro extrai um fragmento no tempo e no espaço, sem preocupações com início ou fim, provocando o leitor com agudas ponderações sobre o paradoxo da vida moderna: quanto mais avançados, mais vulneráveis ficamos.
Diante do evidente declínio civilizatório que boa parte do mundo experimenta – incluindo nós, brasileiros-, este livro é um romance para os nossos tempos.
Motivos para ler:
1- Don DeLillo é um mestre do ofício. Consagrado com prestigiosos prêmios (National Book Award, PEN/Faulkner e Library of Congress Prize), continua produzindo em alta performance. Escolheu, para abrir este romance, a horripilante frase de Einstein: “Não sei com que armas se lutará na Terceira Guerra, mas na Quarta Guerra Mundial será com paus e pedras”;
2- Sinta a vertigem que DeLillo nos impõe: “Pense nos milhões e milhões de telas escuras. Tente imaginar os telefones mudos. O que acontece com as pessoas que vivem dentro de seus celulares? Nós somos gente, os cacos humanos de uma civilização”;
3- O autor sabiamente aponta, numa frase, que não obstante estejamos contemplando a penumbra da civilização e a irracionalidade de muitos, sempre haverá boas forças para trazer a lucidez ao caos. A coragem e o bom sentimento são ingredientes para fazer as coisas melhores. Guarde essa frase:“a vida às vezes fica tão interessante que a gente se esquece de ter medo”. Amanhã há de ser outro dia.
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