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Amares

18/08/2021
Amares | Jornal da Orla

Se a América Latina pudesse eleger um porta-voz de sua história e sua gente, possivelmente o eleito seria o uruguaio Eduardo Galeano. O premiado escritor, dono de um estilo transcendente que fusiona narração, crônica, ensaio e poesia numa coisa só, ergueu uma literatura singular. Não por acaso costuma ser ombreado aos gigantes Pablo Neruda e Gabriel García Márquez.

 

Amares, no melhor estilo Galeano, traz uma série de pequenas cenas cheias de bons pensamentos, frases de efeito e conclusões brilhantes. Ambientadas no cotidiano da vida ou ancoradas em fatos e personalidades históricas, suas historietas, ao mesmo tempo em que enternecem e fazem rir e pensar, também revelam os confins de nossa América Latina – toda a beleza e cultura, e também todo o pilhamento e exploração impostas a estas terras. 

 

De tudo se encontra em suas páginas: amores desencontrados (A viagem), a dor que ninguém vê (História do outro), o engraçado fanatismo (A noite do Juízo Final), o poder dos livros (A função do leitor), a natureza divina/diabólica dos homens (Humaninhos), um impagável dicionário (Dicionário da Nova Ordem Mundial). Nosso favorito – Paradoxos – expõe, inteligentemente, as hilárias contradições da história. 

 

Deleite-se! 

 

Motivos para ler:

 

1- Eduardo Galeano é um colosso das letras latino-americanas. Dentre tantos prêmios internacionais (México, Cuba, Itália, Suécia, Espanha, EUA, Dinamarca), cremos que seu preferido foi o título de primeiro Cidadão Ilustre do Mercosul. Sua grande obra, o espantoso e macabro Veias Abertas da América Latina, figura como um dos grandes livros da humanidade;

 

2- O Brasil é deliciosamente abordado em algumas cenas. Fala-se de Guimarães Rosa, do Rio de Janeiro, de Aleijadinho, de Niemeyer, e também de um anônimo funcionário que, ao fotocopiar clandestinamente documentos da ditadura, deparou-se com antigas cartas que, interceptadas, nunca chegaram ao seu destino. O que fazer com elas?; 

 

3- Galeano foi obrigado a exilar-se quando as ditaduras militares varreram o Cone Sul americano. Refugiou-se para sobreviver, porque o militarismo não admite crítica, só bajulação e subserviência. Como tantos outros de seu tempo, soube incorporar tudo isso para erguer um coro de liberdade e fraternidade entre os povos da América Latina. Que assim seja. 


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