O Brasil é conhecido por seus carnavais, praias e estrelas do futebol, mas um novo estudo sugere que nosso país também deve estar no radar de Israel por outros motivos.
De acordo com pesquisadores de política do Technion – Instituto de Tecnologia de Israel, com sede em Haifa, se eles tivessem que escolher apenas um país, o Brasil é onde as autoridades israelenses engajadas na promoção da aliá deveriam concentrar seus esforços.
Não apenas porque os judeus brasileiros têm mais motivos do que nunca para deixar seu país, dizem os autores deste estudo a ser publicado em breve, mas também porque os judeus brasileiros possuem habilidades muito necessárias em Israel.
“As comunidades judaicas de São Paulo e do Rio de Janeiro são unidas, jovens, conectadas a Israel e menos assimiladas”, escrevem os autores em seu estudo de 55 páginas.
“Além disso, essas comunidades têm uma parcela relativamente alta de profissionais, como especialistas em alta tecnologia e médicos, cujas habilidades são muito solicitadas em Israel”.
Já em 2014, o Ministério da Imigração e Absorção informava um aumento de mais de 100% nas pessoas que trocam a terra do samba e do futebol pela terra do leite e do mel, embora cerca de 100.000 judeus ainda vivam no Brasil hoje.
"Os judeus no Brasil olham para Israel e veem uma ilha de estabilidade econômica com uma ampla gama de oportunidades de negócios e de vida, sem mencionar o clima semelhante", disse o ministro da Imigração e Absorção, Sofa Landver.
No recente estudo citado, o estado volátil da economia brasileira, a violência cada vez mais sem controle, a falta de boas políticas públicas no campo da saúde e da educação facilitam a disposição do brasileiro em fazer aliá.
Entretanto, líderes e representantes da comunidade judaico-brasileira entrevistados para o estudo listaram vários obstáculos para a mudança para Israel. O principal deles era a falta de informações e serviços em português para imigrantes e as dificuldades encontradas para obter certificação profissional.
Um fato curioso é a concentração de imigrantes brasileiros em Ra’anana.
Esta pequena e tranquila cidade com fácil deslocamento para Tel Aviv certamente não tem as paisagens e praias deslumbrantes do Rio. Também carece da cultura e da vida noturna que tornam São Paulo famosa.
E ainda assim, a sonolenta Ra'anana – apesar de sua tendência de fechar quase completamente para o Shabat – rapidamente se tornou o principal destino entre os brasileiros que estão se mudando para Israel.
Atualmernte, é a primeira escolha entre os 1.800 brasileiros que iniciaram o processo de aliá com a Sochnut (Agência Judaica para Israel), uma organização que auxilia o governo israelense na imigração e absorção de estrangeiros.
Hoje, de sinagogas a pátios de escolas, o influxo de brasileiros é palpável em Ra'anana. “Você pode ouvir português em cada esquina aqui”, disse Oshra Sharvit, diretora do ulpan local, a escola subsidiada pelo estado onde novos imigrantes podem aprender hebraico. Sharvit estima que cerca de um quarto dos alunos de sua escola são do Brasil.
“Ra’anana foi rotulada como a cidade escolhida pelos brasileiros”, disse Sandro Maghidman, um imigrante brasileiro que vive em Ra’anana desde 2012.
Maghidman é um organizador da Kehila Yalla Chaverim, ou Let’s Go Friends Community, um grupo do Facebook que é um ponto de encontro virtual para os brasileiros que vivem em Ra'anana e arredores. Online, seus membros trocam experiências, se reúnem para eventos e divulgam serviços de e para brasileiros, que oferecem de tudo, desde cães para passear até fazer coxinhas, os croquetes de frango frito tão queridos no Brasil.
No Brasil, além da comunidade judaica dominante, o estudo estima que mais 4 milhões de habitantes locais podem ser qualificados como “Bnei Anusim” – descendentes de judeus forçados a se converter ao cristianismo durante as inquisições espanholas e portuguesas há mais de 500 anos.
Os Bnei Anusim, no entanto, não são elegíveis para emigrar para Israel de acordo com a Lei do Retorno.
De acordo com o estudo, cerca de 30.000 Bnei Anusim no Brasil já se converteram ao Judaísmo.
Com esta tendência de imigração local, o governo israelense tem, há alguns anos, prometido incentivar com recursos a aliá brasileira.
Os fundos irão para mais cursos de hebraico para judeus brasileiros, muitos dos quais falam apenas português, bem como para aumentar o número de representantes da Agência Judaica no país, para ajudar a preparar os novos olim para sua mudança para Israel, encorajando a emigração, proporcionando seminários preparatórios de aliá e encontrando emprego em tempo integral para novos imigrantes antes de sua mudança para Israel.
Ênfase adicional também será colocada na preparação de futuros alunos para os exames psicométricos exigidos pelas universidades israelenses e no aumento do número de cursos de hebraico no Brasil.
Os esforços de incentivo à aliá não ficarão restritos às grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro e serão feitos também em outras cidades do país.
Mendy Tal
Cientista Político e Ativista Comunitário
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