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Sobre a brevidade da vida

04/08/2021
Sobre a brevidade da vida | Jornal da Orla

Se o tempo presente se mostrar trevoso demais, se a vida enrijecer seu espírito a ponto de transformá-lo num rio enevoado de margens muito largas, o alento pode vir dos antigos.  Sobre a brevidade da vida é um dos textos mais conhecidos e fascinantes da antiguidade latina. Possivelmente escrito por volta de 62-65 d.C., foi preservado e passado às gerações vindouras, ecoando pela eternidade com suas ideias inspiradoras e assustadoramente atuais.

 

Neste pequeno tratado, Sêneca desenvolve assuntos como a aprendizagem, a amizade, a morte, o tempo, a segurança na serenidade contra todos os males, o isolamento e a adoção de uma vida contemplativa. Repleto de boas ideias, o filósofo se propõe a enfrentar temas de alta indagação, instando o leitor a fazer um cálculo de sua própria existência para responder à questão fundamental: o que faz uma vida ser realmente longa e completa? 

 

O livro adota uma forma bastante usada naquele tempo: o ensaio em forma de carta. Sêneca explica didaticamente suas ideias ao seu amigo Paulino, com desenvoltura e clareza. De fácil e rápida leitura, terminamos o livro surpresos com a atualidade de um texto tão antigo, produzido nos idos tempos dos imperadores romanos. 

 

Motivos para ler:

 

1- Sêneca (4 a.C.-65 d.C.) foi um dos expoentes intelectuais da Roma antiga. Filósofo, político e escritor, foi conselheiro nas cortes de Calígula e de Nero. Aposentou-se em 62 d.C., desistindo de assessorar Nero, que se tornava cada vez mais tirânico. Sua morte foi trágica: acusado de tramar um golpe contra o imperador, Nero o sentenciou a cometer suicídio. Sêneca abriu suas veias e morreu serenamente, como sempre pregou em sua filosofia;

 

2- Impressiona como um texto tão antigo se aplica tão bem aos tempos modernos. Vivemos num mundo em que a ocupação constante é um imperativo. Não há espaço para a contemplação: só se pensa em produzir incessantemente. Fora disso, as redes sociais preenchem todo o tempo sobressalente. Sêneca defendia o ócio proveitoso no lugar do homem ocupado, porque este não faz nada bem e está sempre distraído. Aprendamos;

 

3- O livro evoca uma reflexão poderosa sobre algo que já havíamos comentado: atingir idades avançadas não é sinônimo de sabedoria. Alguns adultos seguem um padrão infanto-juvenil a vida inteira – inclusive ocupando altos cargos públicos. Há diferença entre viver e existir. E dirá Sêneca: “Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo.” Vive tua vida plenamente, eis a lição. 


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