Comportamento

Inverno faz as pessoas ficarem mais tristes?

26/06/2021
Inverno faz as pessoas ficarem mais tristes? | Jornal da Orla

O inverno, e a consequente redução das temperaturas, interfere decisivamente no comportamento das pessoas? A resposta é não. Apesar de dias mais frios provocarem mudanças fisiológicas, eles não são determinantes no aumento de sentimentos como tristeza, ansiedade ou depressão. 

 

Isoladamente, o clima ou qualquer outra condição geográfica específica não têm tanto poder na vida de uma pessoa. “O ambiente influencia o indivíduo e seu comportamento, e o clima é um desses componentes”, explica o geógrafo Francisco de Assis Mendonça, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e pesquisador dos impactos do ambiente na saúde.

“Somos resultado de uma série de influências, como cultura, violência, pobreza, experiências de vida e histórico familiar”, completa.

Dias frios e chuvosos tendem a desestimular a pessoa a sair de casa e ter interação social, mas isso acabou ocorrendo nesta pandemia. Logo, não é a temperatura que fará o indivíduo ficar mais ou menos triste. 

O psiquiatra Luiz Carlos Mabilde, da Sociedade de Psicanálise de Porto Alegre (SPPA), destaca que nenhum clima é essencialmente melancólico ou inspirador: o indivíduo é responsável por conceber significados a eventos. “Se para um morador da cidade a chuva pode suscitar tristeza, para um fazendeiro pode ser sinal de alegria e de prosperidade na plantação”, exemplifica.

“O dia ensolarado é um dia como qualquer outro. E o dia cinzento também. Projetamos no sol e no cinza questões que já existem dentro de nós. Se estamos bem, não é o dia acinzentado que vai nos deprimir, nem o sol irá nos deixar eufóricos”, completa.

Gatilhos fisiológicos
As condições climáticas do inverno provocam alterações fisiológicas, mas, em casos específicos, podem ser meros gatilhos de uma situação emocional já presente na pessoa, mas ainda não manifestada.

A luz solar ativa a produção de serotonina e dopamina, neurotransmissores relacionados à felicidade e ao bem-estar. A produção destas substâncias diminui durante o inverno, quando há mais dias nublados e os dias “mais curtos” (amanhece mais tarde e escurece mais cedo).

Com a redução das temperaturas ambientes, o corpo humano tende a gastar mais energia que o habitual para manter seu equilíbrio térmico, o que tende a reduzir seu sistema imunológico. Não à toa, durante o inverno o número de infartos cresce cerca de 30% e o de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVCs) aumentam 20% — dados do Instituto Nacional de Cardiologia. O coração precisa fazer mais força para bombear o sangue.

 

Transtorno ocorre perto do Polo Norte
Diversos estudos indicam que a relação entre o clima e o humor das pessoas pode existir em países do hemisfério norte, em regiões próximas ao Polo Norte, onde são registradas temperaturas extremas (até 20 graus negativos) e uma noite pode durar seis meses. 

É o chamado transtorno afetivo sazonal. Potencializado pela redução do convívio social, ele provoca aumento de sensibilidade dos olhos diante da luz, aumento de apetite (especialmente carboidratos), sonolência, amnésia e perda de apetite sexual. 

Pesquisa dos psicólogos Stuart Kurlansik e Annamarie Ibay publicada na American Family Physician, revela que cerca de 10% da população do hemisfério norte sofre deste tipo de transtorno.