A literatura pode ser muitas coisas. A ucraniana Svetlana, jornalista de ofício, forjou um estilo literário próprio: escreve livros de não ficção utilizando-se diretamente das vozes daqueles que viveram os eventos históricos tratados em suas obras. Tamanha originalidade rendeu-lhe, em 2015, o Prêmio Nobel de Literatura. O comitê do Nobel referiu-se ao trabalho da escritora como um “monumento do sofrimento e da coragem em nosso tempo.”
Para escrever As últimas testemunhas, a autora conversou com vários(as) sobreviventes da 2ª Guerra Mundial – todos(as) eles(as) crianças na época. Svetlana escreveu, ela mesma, o mínimo: o livro apresenta a história oral do mais devastador fato histórico da contemporaneidade por meio de relatos prestados por pessoas que vivenciaram suas infâncias em meio ao horror. Além de contar o que experimentaram, deixaram suas impressões sobre os impactos fulminantes em suas vidas.
No lugar do prefácio, a autora trouxe uma reflexão poderosa de Dostoiévski: “será que encontraremos absolvição para o mundo se for derramada uma lagrimazinha de uma criança inocente? Essa lágrima não legitima nenhum progresso, nenhuma guerra. Ela sempre pesa mais.” E quando termina a infância? Para os envolvidos neste livro, que viram o indizível, terminou muito cedo.
Motivos para ler:
1- Svetlana é uma das raríssimas autoras de livros de não ficção que foram premiadas com o Nobel de Literatura. Dela já falamos nesta coluna, quando comentamos o seu excelente Vozes de Tchernóbil. Uma autora que encontrou novos caminhos literários e ergueu uma obra poderosa e singular;
2- O livro expõe um dos efeitos mais devastadores ocasionados pelos conflitos humanos: a destruição da infância. Isso está acontecendo hoje, nas diversas crises humanitárias que pululam pelo mundo: o problema dos refugiados; a pobreza de um continente inteiro explorado até suas vísceras ao longo da história; os conflitos étnico-religiosos. Mais de perto, vemos a negação à infância aos moradores de rua e de favelas: crianças indignamente encurraladas em função da violência perpetrada pelo crime, pelo tráfico, pelas milícias, pelo terrorismo policial, pela indiferença da sociedade e do Estado;
3- Leia mulheres!
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