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A casa dos espíritos

24/03/2021
A casa dos espíritos | Jornal da Orla

 A literatura latino-americana talvez seja a mais bela expressão cultural desta porção continental. Foram muitos os que emergiram de suas nacionalidades para serem mundialmente reverenciados: García Marquez, Neruda, Galeano, Bolãno, Borges, Clarice Lispector, Raduan Nassar, Jorge Amado. A peruana e “eterna estrangeira” Isabel Allende abriu seu caminho nesse rol de notáveis com A casa dos espíritos. Um clássico que se tornou um título mítico das letras latino-americanas. 

 

Influenciada pelas cores do realismo mágico – que é um patrimônio destas cercanias latinas -, Allende atravessa a estória por três gerações da família Trueba. Embora a narrativa seja centrada na figura do rígido patriarca Esteban, são as três mulheres de sua vida que dão o tom à trama: a esposa Clara, fascinante em sua clarividência; a filha Blanca, que se apaixona por um revolucionário e sofrerá as consequências; e Alba, a neta, a mais amada. Disposto a se tornar um homem da elite econômica, Esteban faz de sua fazenda uma potência. Mas ser rico não basta, e Esteban torna-se senador da República. Quando o seu Partido Conservador perde as eleições, ele próprio liderará as tramas políticas para contra-atacar, o que paradoxalmente implicará na destruição da sua vida. 

 

O encanto deste livro é aquele buscado por todo escritor: quanto mais se avança na leitura, melhor fica. Os eventos internos da família Trueba por si só já dariam um romance espetacular, mas o terço final do livro se desdobra num golpe militar de Estado com implicações de tirar o fôlego.  

 

Um livro arrebatador e para sempre. 

 

Motivos para ler:

1– Isabel Allende passou sua infância no Chile, mas abandonou o país em razão do golpe militar de 1973. O sobrenome não é coincidência: seu pai era primo de Salvador Allende, presidente democraticamente eleito e violentamente derrubado pela ditadura militar do assassino Pinochet.  Detentora de mais de 60 prêmios internacionais, foi a primeira escritora de língua espanhola a ganhar a medalha de honra da National Book Award (2018) pela sua contribuição para a literatura;

 

2– Ler este livro é ler um pouco da estória de todos nós. O livro não revela qual o país onde tudo aconteceu, mas a trama política que se desenrola do meio em diante é aquela ocorrida no Chile de sua infância, numa época em que as ditaduras militares pipocavam na América do Sul; todas, hoje se sabe, financiadas e orquestradas pelo capital estrangeiro estadunidense. Era a época do histrionismo anticomunista, que serviu de mote para “justificar” a injustificável imposição dos golpes militares. Curiosamente há, ainda hoje, quem manipule esse discurso. E, pior, há quem acredite;

 

3– O livro rendeu um filmaço homônimo extremamente fiel ao livro. Pasme com este elenco estreladíssimo: Jeremy Irons, Meryl Streep, Winona Ryder, Gleen Close, Antonio Banderas e Vanessa Redgrave. Confira!  

 

 

 

 

 

 


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