Mais um ano e estamos de novo nos dedicando à nossa missão de lembramos com reverência as vítimas do Holocausto e falarmos desta que foi, a grande tragédia da humanidade.
Mais um ano em que percebemos quão essencial é a memória destas vítimas, diante da perplexidade com o ser humano do século XXI.
Mais um ano que fica a impressão de que o homem pouco evoluiu desde então.
Mais um ano em que 27 de Janeiro é o Dia MUNDIAL em Memória às vítimas do Holocausto.
Todos os anos, as homenagens se espalham para o mundo e temos a oportunidade de refletir sobre a importância da data.
Tantos morreram, famílias inteiras, bairros inteiros, o judeu, o cigano, o homossexual, o deficiente, todos foram considerados seres de quilate inferior.
Já se passaram bem mais de sete décadas e a humanidade deveria ter aprendido com o sofrimento indescritível que foi impingido às minorias.
A noção de uma raça superior há muito caiu por terra e ainda assim, estamos agora aqui, falando disso de modo preocupante.
Seis milhões de judeus morreram no Holocausto e, mesmo assim, o discurso de ódio racista ainda tem uma enorme plateia.
Igualmente, os sobreviventes que sofreram as maiores injustiças que o homem pôde suportar, observam hoje a intolerância mostrar suas garras novamente, gerando passeatas xenófobas que parecem um assustador déjà vu para quem viveu aqueles momentos horrendos.
Os sinais evidentes de antissemitismo de hoje, cada vez mais, se assemelham aos sinais de antissemitismo dos anos 30 do século passado.
A Europa parece repetir seu comportamento de menosprezar os judeus que lá vivem. O fascismo cada vez refloresce e se impregna tanto nos partidos políticos quanto nos povos que carecem de perspectivas.
Mais uma vez, o judaísmo aparece como o bode expiatório de sempre.
Também, o ódio dos fundamentalistas aparece mais vibrante do que nunca. Seus atos terroristas parecem sempre ter a justificativa da morte aos judeus.
E ainda temos um novo elemento que demoniza o povo judeu e a pátria judaica.
Com uma visão claramente tendenciosa e sem fundamento, a leitura que a imprensa faz de Israel é de um país dominador e beligerante.
O antissionismo é a nova racionalização do antissemitismo, que se encontrava latente.
O mundo acadêmico e cultural assimila uma linguagem simplista e vê o sionismo enquanto predador e o palestino enquanto sua vítima.
Parece que nosso povo ainda poderá mais uma vez ser responsabilizado por tudo o que de mal há no mundo.
O perigo é grande.
Na Segunda Guerra Mundial, o mundo e o povo judeu pagaram um preço incomensurável.
E, ainda assim… cá estamos nós outra vez, espectadores de um roteiro muito semelhante daquele que prenunciava a tragédia.
Às vésperas do dia 27 de Janeiro, quando comemoramos a libertação do Campo de Concentração de Auschwitz-Birkenau, encontramo-nos aqui homenageando as vítimas do Holocausto e, mais um ano, bradando a plenos pulmões para que nos escutem, para que aprendam finalmente: ESTE NÃO É O CAMINHO!!
Devemos poder conviver harmoniosamente em um mundo onde a diversidade seja a força que nos une e a tolerância permita um mundo menos agressivo.
Por isso, é mais um ano em que reafirmamos a importância da nossa missão de memória.
Mais um ano em que temos privilégio e o dever de homenagear aqueles que morreram e sofreram deixando-nos o alerta da capacidade do mal.
Mais um ano, um pouco mais preocupados, em que prestamos nosso tributo aos assassinados e aos sobreviventes do Holocausto, na esperança de que o mundo acorde.
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