Comportamento

O final de ano da pandemia

19/12/2020
O final de ano da pandemia | Jornal da Orla

Após meses completamente atípicos, impossível as festas de final de ano serem “normais”. A grande questão é até que ponto serão diferentes as tradicionais confraternizações. E a reunião com os colegas de trabalho? O encontro anual com os amigos da escola ou faculdade?  A ceia ou almoço de Natal? Além das precauções sanitárias essenciais numa pandemia, há as precauções sobre a convivência com as pessoas e também como cada um de nós deve encarar esta época do ano, costumeiramente reservada para reflexões sobre o que ocorreu e planos para o próximo ano. A médica Renata Santoro e o psicólogo Marcus Vinicius Batista dão orientações para ajudar e enfrentar este fim de ano com mais leveza. 

 

Aceitação e reflexão
“Não adianta achar que o Natal e Ano Novo vão ser iguais. Não existe essa coisa de “novo normal”. Na verdade, não existe normal. É o que o psicólogo Roberto Crema chama de “normose”, todo mundo igual, fazendo as mesmas coisas, seguindo as mesmas tradições. São as pessoas normóticas. Nesse sentido, é uma oportunidade para mudar tradições, a forma como a gente quer agradar o outro. Por outro lado, tem muita gente aliviada porque não vai precisar passar o Natal com a família. Então, que Natal era aquele que ela passou no ano passado, que ela não queria estar lá? É preciso saber o significado dessas festas, se é apenas para trocar presentes, beber e sair pela rua igual Carnaval, ou para refletir o que fez durante o ano, o que trouxe bem estar e o que não trouxe”.
Renata Santoro

 

Imaturidade social
“Uma boa parcela da sociedade merece presente de Papai Noel, acha que não está acontecendo nada. Praias cheias nos finais de semana, shoppings cheios, pessoas andando na rua sem máscara ou penduradas no queixo. Jogam fora inúmeras oportunidades de aprendizado, demonstrando imaturidade social, senso frágil de coletividade. Poderíamos estar infinitamente melhor se tivéssemos, no plano individual, maior consciência coletiva e, no plano político, menos comportamento eleitoreiro. Não vejo que nos próximos dias haverá um milagre de Natal e as pessoas se tornarão mais solidárias, principalmente aquelas que acham que nada vai acontecer com elas”. 
Marcus Batista

 

Celebrações
“Sugiro que cada um fique na sua casa, ou que conviva nestes dias com as pessoas com as quais você está habituado a conviver. Não traga pessoas de outras cidades, que não vê faz tempo. Não adianta viver no mundo da magia. E fazer o que todo mundo já sabe: usar a máscara, lavar as mãos, medidas de higiene, distanciamento”.
Renata Santoro

 

“Talvez sjea o caso de abrir mão da convivência neste Natal, para garantir a celebração do Natal do ano que vem e dos próximos anos, a Pascoa, o aniversário, o anivesário de casamento”. 
Marcus Batista

 

Reconciliações
“O Natal não é uma data de reconcilialção efetiva, é mais um cessar-fogo, uma trégua para se mantenha naquelas horas um mínimo de paz, para comer e se cumprir as convenções sociais sem muita dor. Mas isso muitas vezes não funciona conforme a temperatura etílica vai subindo, e as pessoas começam a se cutucar e dizer aquilo que normalmente não diriam sóbrias. A reconciliação efetiva, profunda e essencial costuma acontecer quando a pessoa se percebe finita, quando há alguém no leito de morte”. 
Marcus Batista

 

Bolhas de extremismo
"As redes sociais têm uma polarização que se retroalimenta. As relações políticas se transformaram em relações profundamente emocionais, os afetos se sobrepoem sobre qualquer racionalidade. As redes sociais têm esse papel de bolha, mantém as pessoas enclausuradas em certas ideias, e aí o que acontece. conforme as pessoas vão tendo as mesmas ideias, uma minoria estica a corda, vai para um pensamento mais extremo para se destacar nessa bolha. Só que com o passar do tempo, essse pensamento radical vira o pensamento da bolha inteira. Vai ficando um discurso cada vez mais irrascível, raivoso e longe de uma racionalidade". 
Marcus Batista

 

Negacionismo
“A polarização é simplória, superficial, fragmentada, desinformada, nao olha para o contexto.O negacionista sempre vai achar alguém para confirmar a sua tese.  Nossas lideranças políticas tem grande cota de responsabilidade, pois legitima os discursos negacionistas”.
Marcus Batista

 

Plano para o ano novo
“Parem de fazer essas listinhas ridículas, “eu vou emagrecer”, “vou começar a correr”. Se você realmente precisar de uma lista, deve escrever “esse ano eu vou me reconectar melhor com as coisas que gosto”, “vou entender melhor os outros”. Coisas mais subjetivas, mas que vão levar às coisas físicas que se quer. Esse vírus veio para mostrar para a gente o que é o viver o aqui e o agora, aproveitar cada segundo e agradecer”.
Renata Santoro