Comentamos na coluna anterior que o crescimento das cidades e do adensamento populacional em áreas urbanas tende a trazer problemas hídricos, tanto pela falta de cuidados com as nascentes, resultando em insuficiência de água potável como pelo excesso de águas pluviais sem escoamento, resultando em inundações. E mostramos que existem soluções baseadas na própria Natureza, com o desenvolvimento de áreas verdes no meio urbano, filtrando as águas para consumo e absorvendo de modo natural a água da chuva, evitando as enchentes.
Tais soluções estão mais ligadas ao trabalho dos planejadores urbanos e dos urbanistas, mas há também um gama de opções ao alcance de arquitetos e engenheiros, empreendedores e construtores imobiliários e mesmo de qualquer cidadão. Elas estão enfeixadas no chamado Design Urbano Sustentável.
Existem exemplos que podem ser adaptados a diferentes escalas de tamanho e, por isso, ao mesmo tempo constituem uma das principais ações urbanizadoras adotadas por grandes cidades, como podem ser adotados por empreendimentos de menor porte, como casas e conjuntos residenciais.
Um deles é o chamado jardim de chuva ou jardim de infiltração: espaços que funcionam como esponjas, ajudando a absorver a água – com o detalhe importante de que provocam a valorização tanto das propriedades onde são implantados como dos espaços públicos e seu entorno. Tais jardins devem ser instalados em partes mais baixas dos terrenos, geralmente mais impactadas por chuvas fortes.
Opção conhecida – mas ainda pouco aplicada – é o “telhado verde”, que ajuda na regulação microclimática das edificações e facilita o acúmulo da água da chuva, especialmente se usado junto com cisternas. “Essa água pode ser usada para a limpeza das áreas comuns, reduzindo o consumo de água potável. Isso é ainda mais importante nos períodos de seca”, diz o gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti.
Também os parques e as áreas verdes em geral ajudam na filtragem de sedimentos e na retenção de água, além de gerar impacto positivo sobre a saúde e o bem-estar das pessoas, à medida que se tornam espaços de lazer e relaxamento para a população e atuem na redução da poluição sonora e atmosférica. As árvores também reduzem a velocidade de escoamento da água, impedindo que o sistema de drenagem se sobrecarregue rapidamente.
“O poder público precisa perceber que isso tem valor. Evitar alagamentos é igual a reduzir grandes despesas, desde o tratamento da água até o sistema de saúde. Em um cenário de mudanças climáticas, com chuvas intensas seguidas por longos períodos de estiagem, ter controle sobre a disponibilidade da água é uma questão de sobrevivência”, afirma André.
De acordo com o DataSUS, em 2018, foram registradas mais de 230 mil internações (e 2.180 mortes) por doenças de veiculação hídrica, provocadas principalmente por falta de saneamento básico ou pelo contato com água suja em enchentes. Entre as doenças estão diarreia, leptospirose e hepatite A. Os gastos com internações com estas enfermidades no Sistema Único de Saúde (SUS) chegou a R$ 90 milhões no mesmo ano, segundo o Painel Saneamento Brasil, do Instituto Trata Brasil.
Um gasto que poderia ser evitado, se parte desse valor tivesse sido previamente aplicada em soluções ambientais e urbanísticas como as citadas nestas colunas. E os cidadãos e compradores de imóveis estão cada vez mais atentos aos cuidados que autoridades, empresas e comunidades dedicam à melhora da qualidade de vida nos ambientes urbanos.
Cobertura vegetal em edifício de Manhattan, na área central de New York/EUA
Foto: Alyson Hurt de Alexandria/Wikipedia
Telhado verde da ufaFabrik, em Berlim/Alemanha
Foto: Wikipedia/2006
City Hall da cidade de Chicago, em Illinois/EUA, com seu “Green Roof”
Foto: Tony The Tiger/Wikipedia, 8/7/2008
Este artigo é de responsabilidade do autor e não reflete a linha editorial e ideológica do Jornal da Orla. O jornal não se responsabiliza pelas colunas publicadas neste espaço.