"Não tente entender. Sinta." Essa é uma frase dita em determinado momento por uma personagem ao protagonista de Tenet e, que define exatamente a jornada que o público vai encarar nas 2h30 de filme. O novo filme do melhor diretor de Blockbuster do cenário atual, propositalmente não nos deixa respirar para absorver, de maneira mais aprofundada, o tanto de informação que é jogado na tela. É incrível a capacidade de imaginação de Chistopher Nolan ao criar universos e tramas originais e ao mesmo tempo complexas e inteligentes, onde requer muita atenção da platéia em cada detalhe para melhor compreensão da história, porém para os mais desatentos pode se tornar uma experiência não tão prazerosa. Me dói dizer isso, após tanto tempo sem ir aos cinemas, mas infelizmente Tenet é o primeiro deslize na carreira deste talentoso diretor, que é pego pela sua megalomania em um filme pretensioso demais e com emoção de menos.
No filme, um agente da CIA conhecido como O Protagonista (John David Washington) é recrutado por uma organização misteriosa, chamada Tenet, para participar de uma missão de escala global. Eles precisam impedir que Andrei Sator (Kenneth Branagh), um renegado oligarca russo com meios de se comunicar com o futuro, inicie a Terceira Guerra Mundial. A organização está em posse de uma arma de fogo que consegue fazer o tempo correr ao contrário, acreditando que o objeto veio do futuro. Com essa habilidade em mãos, O Protagonista precisará usá-la como forma de se opor à ameaça que está por vir, impedindo que os planos de Sator se concretizem. Praticamente, toda a filmografia de Christopher Nolan tem a ver com o conceito e significados do tempo e em Tenet, o diretor mistura elementos de todas suas obras anteriores e as potencializa ao máximo em uma trama de espionagem nos moldes de 007. O diretor tem aqui provavelmente seu trabalho mais complexo e megalomaníaco, mostrando todo o poder que tem em captar dinheiro da Warner Bros, com efeitos práticos, cenários grandiosos e muitas explosões. As sequencias de perseguições e tiroteios envolvendo o tempo normal e o inverso ao mesmo tempo fascinam pela engenhosidade com cada detalhe se encaixando perfeitamente. Destaque para a perseguição na rodovia e pela maneira como os dois tempos contrários um ao outro coexistem na grandiosa sequencia final que é de tirar o fôlego.
O grande problema de Tenet talvez esteja em seu roteiro, também escrito pelo diretor, que utiliza da velha artimanha de tornar uma trama simples em algo intrincado e mais complexo do que realmente é. Apresentando um conceito interessante, porém mal executado e bastante confuso, o roteiro mostra-se cansativo onde por muitas vezes me peguei não compreendendo o motivo de tal personagem estar em determinado local ou realizando alguma missão. Os diálogos são expositivos, os personagens são mal desenvolvidos e suas motivações são extremamente rasas, como as do péssimo vilão e o relacionamento entre o protagonista e a esposa do vilão, onde tenta criar um pano de fundo amoroso que jamais convence.
Tecnicamente, o filme impressiona pela sua marcante trilha sonora de Ludwig Göransson e para a imponente fotografia de Hoyte Van Hoytema. Junto a isso, as coreografias de luta, os efeitos especiais e a edição de som são espetaculares, porém a edição e montagem do filme não me agradaram, o que me deixou a impressão que foram feita às pressas.
Apesar dos personagens serem mal desenvolvidos, os atores conseguem segurar o projeto com seu carisma e talento dando destaque para John David Washington, cada vez mais crescendo em seus papéis em Hollywood e para Robert Pattinson, que comprova ser um dos grandes nomes do cinema atual e gera grande expectativas por ser o novo Batman.
Tenet não é um filme para todos e com certeza dividirá a opinião do público, mas mostra que mesmo não estando em seu ápice, Christopher Nolan continua a contar boas e autorais histórias que deixará seus fãs passando horas tentando desvendar este complexo quebra cabeças.
Curiosidades: Christopher Nolan pediu ao físico Kip Thorne, com quem havia trabalhado anteriormente em Interestelar (2014), para ler o roteiro e ajudar com alguns dos conceitos.
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