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Dica da semana: Bastardos Inglórios

31/10/2020
Dica da semana: Bastardos Inglórios | Jornal da Orla

A 2° Guerra Mundial já foi apresentada diversas vezes e com diferentes e inúmeras abordagens ao longo de todos estes anos no cinema Mundial. Porém, eu duvido que tenha sido representado da forma com que Quentin Tarantino fez em Bastardos Inglórios. Tarantino é, seguramente, o maior diretor pop que existe e também um dos grandes cineastas do cinema moderno, com uma capacidade de criar diálogos e dirigir seus atores fora do comum. Em seu 6° filme, e o primeiro a se passar verdadeiramente em outra época, Tarantino continua a subverter nossas expectativas ao mudar definitivamente o rumo da História e nos transportar a um riquíssimo e gigantesco universo próprio, que só o diretor sabe fazer. Revendo este filme mais uma vez, me pergunto se, mesmo diante de diversas obras-primas em sua carreira, Bastardos Inglórios não seria o ápice na carreira do diretor.

No longa, que se passa na Segunda Guerra Mundial, a França está ocupada pelos nazistas. O tenente Aldo Raine (Brad Pitt) é o encarregado de reunir um pelotão de soldados de origem judaica, com o objetivo de realizar uma missão suicida contra os alemães. O objetivo é matar o maior número possível de nazistas, da forma mais cruel possível. Paralelamente, Shosanna Dreyfuss (Mélanie Laurent) assiste a execução de sua família pelas mãos do coronel Hans Landa (Christoph Waltz), o que faz com que fuja para Paris. Lá, ela se disfarça como operadora e dona de um cinema local, enquanto planeja um meio de se vingar. Não importa a qual gênero ou história que esteja contando, os filmes de Tarantino sempre giram em torno do Cinema e do amor que o diretor sente por este. Conhecido principalmente por seus diálogos característicos, Tarantino aqui se mostra encantado pelo seu estilo, onde estabelece as características e motivações de seus personagens e ao desenrolar um longo diálogo repleto de uma tensão absurda, que acaba culminando em uma explosão de violência (marca registrada do diretor). A sequencia de abertura do filme traz um jogo de gato e rato tremendamente eficiente (que me deixou na ponta da cadeira) ao passo que a longa cena que se passa em um pub subterrâneo é uma das melhores coisas da história do Cinema, tudo com uma direção elegante e cheia de energia.

Voltando a criar um roteiro dividido em capítulos, o qual demorou dez anos para finalizar, Tarantino volta a abordar seu tema favorito, que é a vingança e se apossando de elementos da história para criar sua própria versão dos fatos e apresentar tudo da forma com que gostaria que tivesse acontecido: com muito humor, diálogos marcantes, sarcasmo e muito sangue e mutilação e que,  apesar da longa duração, possui uma maneira única de prender o público do início ao fim.

Na parte técnica, o filme é primoroso: começando com a belíssima fotografia de Robert Richadson, que possui interessantes e elegantes movimentos de câmera que valoriza todos os detalhes nos cenários, a primorosa trilha sonora com muitas composições do mestre Ennio Morricone e o impecável design de produção, que nos leva diretamente para aquele período.

Tarantino também é conhecido por escolher seu elenco à dedo e aqui, possui intérpretes à altura dos icônicos e brilhantes personagens que sua mente criou: conhecemos o Urso Judeu, conhecido por esmagar crânios com taco de beisebol, o crítico de cinema, a atriz alemã que trabalha como espiã, uma francesa blasé e um soldado alemão. Mas, dentro de tantos personagens memoráveis, tenho dois destaques: Brad Pitt, como o impagável tenente sulista (a cena em que “fala italiano” é memorável) e ao melhor personagem do filme e, talvez o da filmografia de Tarantino, o Coronel Hans Landa interpretado pelo magistral Christoph Waltz. Mostrando-se sempre cortês e com uma cuidadosa escolha de palavras, o ator se torna o personagem de forma incrível. Repare como ele consegue transitar entre vários idiomas absorvendo até os trejeitos dos nativos do país de forma natural.

Bastardos Inglórios é um clássico do cinema moderno, que faz uma bela homenagem à sétima arte e comprova todo o amor que este cineasta tem pela sua profissão. É um filme imperdível, que fará com que o público vibre com seu final apoteótico e inesquecível onde um personagem diz praticamente na fala de seu diretor:”Eu acho que essa é minha obra-prima.”

Curiosidades: Tarantino começou a escrever o roteiro de Bastardos Inglórios antes de Kill Bill – Volume 1 (2003), mas adiou o projeto por não encontrar, na época, um bom final para a história contada.


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