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O nome da rosa

14/10/2020
O nome da rosa | Jornal da Orla

Alguns exemplares literários exigem de nós, leitores, algo mais do que a atenção que normalmente dispensamos na leitura. Este best-seller de Eco requer dedicação, colocando-nos numa experiência de humildade perante um texto brilhante e complexo. Ao fecharmos o monumento que é O nome da rosa temos a certeza de que saímos dele com um livro para sempre entalhado no coração.

O romance histórico-detetivesco é ambientado em novembro de 1.327.  Idade Média, portanto: tempos da Santa Inquisição e de mortais intrigas entre diversas ordens religiosas. Frei Guilherme e seu noviço Adso são enviados em missão a uma abadia beneditina e lá se defrontam com uma sucessão de sinistras mortes. O livro é narrado por um Adso já velho, rememorando os eventos passados com seu mestre nos sete dias em que habitaram o mosteiro.

Caberá ao mestre Guilherme, com sua sagacidade lógico-dedutiva aliada à experiência de ex-inquisidor do Santo Ofício, decifrar os enigmas que volteiam as sombrias mortes dos religiosos reclusos. Um livro repleto de referências históricas, latim, teologia do medievo e muito sangue; tudo orquestrado por Umberto Eco, autoridade no tema Idade Média.

Maravilhoso do início ao fim (e que final, minha gente!) o livro é muito mais do que uma simples estória de mistério à moda de Agatha Christie. Envolvemo-nos com a estilística medieval pelas mãos de um mestre no assunto, conhecemos as dissensões que perturbavam os religiosos da época (Jesus Cristo sorria? O modo franciscano de pobreza deveria ser tolerado pela Igreja?), presenciamos um julgamento da Santa Inquisição e nos deslumbramos com um labirinto em forma de biblioteca. Enorme, Eco.

Tolle et lege.

Motivos para ler:
1 – Já falamos de Umberto Eco numa coluna passada. Tratadista de semiótica, professor emérito das universidades de Turim e Bolonha e acadêmico medievalista, o italiano foi uma potência intelectual da raça humana. O nome da rosa é seu romance mais conhecido. Sugiro com entusiasmo a edição da editora Record (14ª Ed., 2019). Além da capa mais bonita que já vi (negra, dura, com filigranas douradas e uma pintura perturbadora no centro), possui uma cronologia interessantíssima ligando a vida de Eco ao contexto literário/histórico e, ao final, o melhor: a tradução para o português de todas as expressões em latim. É uma delícia;

2 – Disse Eco que “cada história conta uma história já contada”. É verdade: em 1986 (6 anos após o lançamento do livro) veio a versão cinematográfica da obra, com o sempre elegante Sir Sean Connery encarnando Frei Guilherme e um jovem Christian Slater na pele do noviço Adso;

3 – E, de novo, como cada história conta uma história já contada, o livro também rendeu uma linda música da nossa banda favorita: Sign of the Cross, dos britânicos do Iron Maiden. São quase 12 minutos de cantos gregorianos, uma cavalgada medieval que deságua num lindo refrão e a proclamação sinistra de um Auto de Fé da Santa Inquisição logo no início: “Onze homens santos com seus mantos / Silhuetas contra o céu / O da frente com uma cruz alta levantada / Vêm para lavar meus pecados”. Versão bonita com Blaze Bailey no disco, versão poderosa com Bruce Dickinson ao vivo.

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